Título: Expansão do emprego não melhorou a renda
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B3

O crescimento de 5,2% no PIB pode ter gerado até 2,7 milhões de postos de trabalho em todo o País no ano passado. Desse total, 1,5 milhão foram empregos com carteira assinada. Mas essa expansão não foi suficiente para fazer a renda do trabalhador aumentar. Cada ponto porcentual de crescimento do PIB representou a abertura de 540 mil vagas, estima o economista Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para chegar a esse número, Pochmann trabalhou com a relação produto/emprego verificada entre 1999 e 2002, em que cada ponto de alta no PIB correspondeu a uma variação de 0,67% no nível de ocupação. Como base, ele utilizou dados do IBGE mostrando que havia 78 milhões de brasileiros ocupados em 2003.

"Precisamos continuar crescendo entre 5% e 5,5% por no mínimo mais 5 anos para poder gerar os empregos suficientes para atender aos 2 milhões de trabalhadores que ingressam anualmente no mercado, além de incorporar aqueles que já se encontram desempregados", diz o economista.

A melhora do mercado de trabalho não foi seguida pelo aumento nos salários. No ano passado, o rendimento médio real do trabalhador caiu 0,8% nas 6 regiões metropolitanas pesquisadas mensalmente pelo IBGE (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).

"Esse processo é demorado, mesmo", diz Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE. "A primeira coisa que se recupera na dinâmica do mercado de trabalho são as vagas que haviam sido fechadas; depois, é a qualidade do emprego, e só depois vem o rendimento".

Mesmo assim, o consumo das famílias cresceu 4,3% em 2004. "Esse resultado foi possível graças a um conjunto de fatores que aumentou a capacidade de consumo", observa Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese. Entre esses fatores, ele cita a ampliação do volume de crédito.