Título: Brasil perde para emergentes
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B4

Apesar do animador crescimento do PIB no ano passado, o Brasil ainda perde feio dos outros grandes mercados emergentes. Nos últimos dez anos, a China cresceu, em média, 8,61% ao ano, a Índia teve crescimento de 6% e a Rússia, de 2,95%. O Brasil ficou na lanterninha, com crescimento de 2,4% ao ano, segundo dados da Economist Intelligence Unit, unidade de pesquisa da revista The Economist. Em 2004, segundo estimativas, todos esses países cresceram mais do que o Brasil, aproveitando-se da boa fase da economia internacional - a China cresceu 9,5%, a Índia, 6,5% e a Rússia, 7,1%, diante de 5,2% do Brasil. Mas por que esses países conseguem crescer mais do que o Brasil? Segundo Dominic Wilson, autor de um relatório sobre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o País enfrenta mais obstáculos para crescer do que outros emergentes. "A dívida pública do Brasil e seu endividamento externo impedem que o país cresça mais", disse ao Estado Wilson, economista global sênior da Goldman Sachs em Nova York.

O economista aponta também outro obstáculo para o crescimento do Brasil - a baixa taxa de investimento. A taxa de investimento no País está próxima de 20% do PIB, ante 40% na China, por exemplo. Sem um maior investimento em fábricas e máquinas, não há como acelerar a expansão da produção.

E o outro fator é a pequena abertura do País ao comércio internacional. Apesar de as exportações terem crescido muito, a corrente comercial (exportações mais importações) do Brasil ainda é uma fatia bem pequena do PIB, de 25%, em comparação com os outros países. Isso torna a economia brasileira mais vulnerável a condições de liquidez no mundo, diz o economista.

Wilson prevê, em seu relatório "Dreaming with BRICs: the Path to 2050" (Sonhando com os BRICs: O caminho para 2050), que o Brasil vai crescer, em média, 4,2% nos próximos 5 anos, menos do que a China (7,2%), Índia (6,1%) e Rússia (4,8%). Mas ele pode revisar para cima as projeções de crescimento: "O desempenho do Brasil no ano passado foi muito melhor do que nossas projeções. A dependência externa caiu bastante, e o Brasil apresentou um significativo superávit em conta corrente ."

Para Wilson, é importante ressaltar que dificilmente o Brasil conseguiria ter taxas de crescimento semelhantes às da Índia e a China, na casa dos 8%, por um simples motivo - esses países são mais pobres. China e Índia vêm de um nível mais baixo de renda e tecnologia, uma base menor. Assim, é mais fácil para esses países crescerem a taxas aceleradas. À medida que o país se desenvolve, fica mais difícil ter taxas de crescimento tão expressivas.

Outros fatores estruturais colaboram para o crescimento meteórico desses países. O tamanho do mercado chinês, com 1,3 bilhão de habitantes, a política governamental de crédito e incentivos e o enorme volume de investimentos estrangeiros diretos desequilibram a balança em favor da China. Mas o país precisa lidar com algumas questões para garantir sustentabilidade ao crescimento, dizem economistas. O câmbio fixo, alto nível de inadimplência nos bancos e a desigualdade social são alguns dos temas que precisam ser resolvidos.

A Índia também é uma potência populacional e tem forte investimento em educação. Mas precisa lidar com o alto nível de miséria e grande déficit do governo.