Título: País precisa avançar como a China para ser o 8.º lugar
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B4

O Brasil precisaria ser uma China, isto é, crescer na média 9% ao ano para reconquistar a posição de 8.ª economia do planeta que ocupava em 1998 no ranking das riquezas dos países. Se vier a repetir na média dos próximos 10 anos a taxa de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) alcançada no ano passado, o País ganhará apenas uma posição entre as principais economias, passando da 12.ª colocação, que ocupa atualmente, para a 11.ª.

"A situação é complicada", observa o diretor-executivo da GRCVisão, Alexandre Fisher, que efetuou os cálculos a pedido da reportagem de O Estado.

Para chegar a essas conclusões, o economista considerou o crescimento médio do PIB das principais economias entre 1994 e 2004 e formulou a hipótese de que esse quadro se repita nós próximos 10 anos.

Os dados utilizados foram do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do PIB brasileiro divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

PLANOS HETEDOXOS

O distanciamento do Brasil das demais economias é fruto dos equívocos de políticas econômicas ao longo dos últimos anos que deram maios prioridade ao corte nos investimentos e não no custeio, informou o diretor-executivo da GRCVisão.

"De 1985 para cá passamos por quatro planos heterodoxos, a desvalorização do real e a transição para o Plano Real", completou Alexandre Fisher.

Para compensar esse distanciamento da economia brasileira em relação às demais, ele acredita que será preciso muito mais do que uma combinação de afrouxamento da política monetária com a elevação das cotações das commodities nos mercados internacionais, que no ano passado garantiu o bom desempenho das exportações brasileiras.

"Isso sem falar na base de comparação favorável de 2003, que foi decisiva para atingir a taxa de 5, 2%", declarou.

SUSTENTABILIDADE

Para a economista-chefe da MB Associados, Monica Baer, a taxa de crescimento do PIB de 5,2% alcançada em 2004 é, sem dúvida, um bom resultado.

Ela ressalta, no entanto, que se trata de apenas um ponto.

"Temos dúvidas se essa taxa de crescimento vai se repetir numa trajetória sustentável", declarou Monica. Para 2005, a consultoria prevê crescimento entre 3,5% e 4% do PIB.

O distanciamento da economia brasileira ganha significado especial quando se leva em conta países que entraram na rota clara do desenvolvimento sustentável a partir dos anos 70.

Esse é o caso da Espanha e do México, observa Monica.

De acordo com os cálculos realizados pela economista, se o Brasil continuasse crescendo 5% ao ano, o País levaria um ano e meio para alcançar o PIB do México, estimado em US$ 658 bilhões em 2004.

E oito anos para se equiparar à Espanha, que no ano passado teve um PIB de US$ 860 bilhões.

Para chegar a esses números, Monica considerou o PIB brasileiro de US$ 605,6 bilhões no ano passado e a hipótese, praticamente impossível, que a Espanha e o México tivessem o PIB congelado em 2004.

PIB PER CAPITA

Quando se avalia o crescimento da economia do ponto de vista per capita, isto é, toda a riqueza gerada dividida pela população, as perspectivas são ainda mais sombrias, uma vez que o Brasil é muito mais populoso do que o México e a Espanha.

Se o PIB per capita brasileiro crescesse 5% ao ano daqui para frente, o Brasil com uma renda per capita de US$ 3.335 em 2004 levaria 13 anos para se equiparar ao México, que tem um PIB per capita de US$ 6.267.

No caso da Espanha, observa a economista, o Brasil gastaria 38 anos para ter o mesmo PIB per capita, que foi estimado em US$ 20.976 no ano passado.

A economista pondera que, para o PIB per capita brasileiro aumente 5% ao ano, será necessário que a economia do Brasil como um todo tenha uma taxa crescimento bastante maior.