Título: Crédito anima os consumidores
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B5
O acesso mais fácil ao crédito, um dos destaques do desempenho do PIB divulgado pelo IBGE, encorajou o professor de Marketing Waldemir Madeira Magnavita, de 48 anos, a trocar de fogão e de geladeira no início do ano. Ele até preferia pagar à vista para escapar dos juros, mas quando soube que eles não seriam cobrados se parcelasse em dez vezes, no cartão de crédito, não pensou duas vezes. "Não está difícil ter acesso ao crédito. Mesmo assim, acho que ou as parcelas são subsidiadas ou os preços estão com folga para absorver a alta dos juros", considera. A próxima compra do professor universitário será um carro usado. Neste caso, ele está aplicando o dinheiro para uma compra à vista. "Hoje nós temos mais perspectiva, mais segurança. Uma compra pode ser planejada de um ano para a frente", conta Magnavita.
Na indústria de máquinas e equipamentos, a percepção é de que a escalada da taxa básica de juro (Selic, hoje em 18,75% ao ano), iniciada em setembro, teve impacto tanto nos pedidos quanto nos investimentos.
"Há, sim, um movimento de antecipação de pedidos quando se viu que o Banco Central (BC) faria um aumento da Selic de forma sistemática. Isso também aconteceu com os investimentos, mas de forma inercial", avalia o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello.
Segundo ele, as empresas trabalharam "a todo o vapor" no segundo trimestre de 2004 para fazer as entregas no terceiro trimestre. No fim das contas, Mello lembra que o crescimento do setor foi de 20,6%, principalmente por causa da inflação sob controle e do maior acesso ao crédito. Para este ano, no entanto, as projeções não são boas.
"Se houver crescimento zero em 2005, já ficarei otimista. Isso por causa do dólar, cujo valor está 30% abaixo do preço ideal, e por causa do aumento de 100% do aço, além dos juros", diz o presidente da Abimaq.
Para a construção civil, diretamente ligada à indústria de máquinas e equipamentos, o desempenho também foi positivo no ano passado. De acordo com o presidente da construtora e incorporadora RJZ Engenharia, Rogério Zylbersztajn, o faturamento da empresa cresceu 30% no ano passado, ao somar R$ 300 milhões. Esse resultado inclui parceiras, como a com a incorporadora paulista Cyrela.
"Vejo uma onda muito boa no Brasil. Há a estabilidade da economia e não há turbulência externa. No Rio, as sucessivas boas administrações municipais têm contribuído para o mercado", diz. Este ano, o empresário estima que o faturamento da RJZ deverá crescer 15%. "O mercado esteve bom o ano todo", afirma, ao responder se a alta da Selic, no ano passado, refletiu-se nos investimentos do setor de construção civil.