Título: Definição sobre TV digital fica para 2006
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B17

Pelo jeito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai mesmo assistir a Copa de 2006 na TV digital brasileira. O Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) reuniu-se na segunda-feira e decidiu que as universidades e centros de pesquisa têm até 10 de dezembro para entregar ao governo um relatório sobre o modelo e a tecnologia a serem adotados no Brasil. A partir daí, o comitê terá mais dois meses para entregar um documento com suas considerações ao presidente. O prazo anterior para este documento, previsto em decreto presidencial, vencia em março. O próprio governo, porém, parece já ter afastado a idéia de criar uma tecnologia local. "Com o relatório, vamos verificar o que dá para desenvolver aqui", explicou o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Paulo Lustosa. No ano passado, Lustosa chegou a dizer que o governo havia desistido de criar um sistema brasileiro, durante evento em São Paulo, para depois retificar a informação, ao chegar em Brasília. Ele participou ontem da abertura da Telexpo, evento de telecomunicações que vai até sexta-feira em São Paulo.

Na semana passada, o governo assinou convênios com 27 instituições de pesquisa, divididas em seis consórcios, para estudar os aspectos tecnológicos, econômicos e sociais da TV digital. Foram liberados R$ 19 milhões do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) para o trabalho. "Eles terão nove meses, o tempo de uma gestação humana. Mas eles queriam 11 meses, uma gestação de jumento", brincou Lustosa. A TV digital proporciona imagem seis vezes melhor e som surround, como o de cinema. Além disso, permite serviços interativos, como comércio eletrônico, vídeo sob demanda e educação à distância, parecidos com os que existem na internet.

O processo de escolha do sistema começou em 1994, quando a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) criaram um grupo de trabalho para analisar as opções existentes. Em 1998, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), recém-criada, tomou frente do processo. Com o apoio da indústria, a Universidade Mackenzie comparou, entre 1999 e 2000, os três principais padrões internacionais: o americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB. O ISDB, defendido pela Abert, obteve os melhores resultados. A Anatel chegou a realizar duas consultas públicas, uma sobre o resultado dos testes e outra sobre os aspectos econômicos e sociais da tecnologia.