Título: 'Ninguém está preocupado com crise política no Brasil', garante Dirceu
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2005, Nacional, p. A5

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, negou ontem, em Nova York, que o governo tenha tentado negociar com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), o arquivamento da representação parlamentar apresentada pelo PSDB contra o presidente Luiz Inácio Lula que pede a abertura de processo por crime de responsabilidade por conta das declarações de Lula sobre um suposto esquema de corrupção nas privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Dirceu lembrou que um documento desse tipo só pode ser arquivado a partir de preceitos baseados a partir do regimento interno e através de um parecer jurídico. "Não é crível e nem verossímil que se possa arquivar (representação parlamentar) por causa de questões político-partidárias ou relações com o governo. Não acredito que o presidente Severino Cavalcanti se prestaria a isso e nem nós, do governo, vamos nos prestar", afirmou Dirceu após palestra a investidores e analistas na Câmara de Comércio Brasil-EUA.

"A Câmara dos Deputados tem independência. É um poder que tem harmonia com o Executivo, mas que vai analisar esta representação segundo os antecedentes. Como no Poder Judiciário há jurisprudência, a Câmara também possui antecedentes para analisar o assunto. Não acredito que o presidente irá tomar uma decisão discricionária, impor a vontade imperial dele. Até porque a Câmara é composta por 513 deputados. Tenho certeza de que a decisão vai ser legal, constitucional e baseada na lei", destacou Dirceu.

Segundo o ministro, os investidores estrangeiros com os quais manteve contato ontem de manhã, em Nova York não manifestaram preocupação em relação a uma crise política no Brasil por conta das declarações de Lula. "Conversei com vários investidores e ninguém está preocupado com crise política no Brasil. E basta ter as informações e os fatos para ver que o governo tem maioria na Câmara. Não está havendo nenhuma crise de governabilidade no Brasil", afirmou Jose Dirceu.

"Houve uma derrota do partido do governo na eleição do presidente da Câmara. Mas isso não mudou a composição da Casa. O governo não deixou de ter maioria. O governo tem dificuldades na Câmara como qualquer outro governo, a exemplo do que acontece no governo Bush aqui. Há projetos que não passam", afirmou o ministro, lembrando que a reforma da Previdência Social nos Estados Unidos vai ser muito mais polêmica do que a realizada no Brasil.