Título: Oposição está muito radical, diz presidente
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem a oposição de "radical" e disse estar surpreso com a reação às declarações feitas por ele no Espírito Santo, há cinco dias, quando contou ter pedido a um "alto companheiro" de uma estatal que fechasse a boca em relação a um suposto esquema de corrupção no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Eu não estou entendendo essa radicalidade da oposição", disse Lula, numa referência ao PSDB, que protocolou na Câmara pedido de abertura de processo por crime de responsabilidade contra ele. "Vou fazer o possível para que essa radicalidade não contamine a economia." O presidente atribuiu a crise à antecipação da disputa eleitoral de 2006. "Mas eu não vou precipitar a eleição", garantiu.

As afirmações de Lula foram feitas durante reunião a portas fechadas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP), o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), no Palácio do Planalto.

Renan contou que o presidente disse ter sido mal-interpretado em suas declarações. "Quando ele afirmou para o companheiro fechar a boca, no início do seu governo, fez isso porque não queria contaminar o ambiente político e econômico, até porque sabia que uma investigação estava em curso", argumentou o presidente do Senado.

Durante o encontro, Lula elogiou o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a quem cabe decidir o destino da representação do PSDB. No domingo, Severino disse a interlocutores que não estava disposto a fazer um "cavalo de batalha" em torno do episódio. "Precisamos ter bom senso", comentou, indicando deverá arquivar o pedido do PSDB.

Para o presidente do Senado, a temperatura da novela pós-discurso "baixou muito" por inconsistência de argumentos. "É difícil desdobrar uma declaração como a que o presidente fez numa crise política relevante", disse.

Interlocutores do PT que estiveram com Lula nos últimos dias contaram que ele não pedirá desculpas a Fernando Henrique. Em conversas reservadas, o presidente admitiu que passou do tom, mas não vê motivo para retratação.