Título: Aldo ameaça ceder a pressões e deixar o cargo
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2005, Nacional, p. A5

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, ameaçou ontem ceder às pressões do PT e deixar o cargo. Bombardeado por petistas de todas as facções e pelo PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), Aldo chegou a dizer, em conversas reservadas, que sua saída poderia ser melhor para o governo, diante da difícil situação criada. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem dúvidas se abrir mão do ministro seria a melhor alternativa. Lula gosta muito de Aldo, que é filiado ao PC do B, e até agora tem ignorado a fritura política. Em novembro do ano passado, chegou a comunicar a ele que a reforma ministerial não atingiria o seu gabinete. Depois da derrota governista na Câmara, porém, o PT não descansou: não se passa um dia sem que alguém do partido peça publicamente a cabeça de Aldo.

"O que o PT diz é que é preciso melhor afinação política entre o governo, a bancada e a base aliada", afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA). "Essa insatisfação há, mas mudança de ministro é com o presidente da República". Muito discreto, Aldo não faz nenhum comentário.

Em reunião de duas horas, ontem à tarde, com Aldo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP) e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), Lula comentou que pretende concluir a reforma ministerial em duas semanas.

Pela primeira vez, ele confirmou que a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) vai mesmo ganhar um ministério. Não disse qual, mas o mais provável é que seja Comunicações, pasta hoje ocupada por Eunício Oliveira, do PMDB. Eunício deve ficar na equipe, mas em outra pasta.

Com a derrota do governo na disputa pelo comando da Câmara, que exibiu traições na base aliada, Lula olha o cenário com mais cuidado.

DIAS CONTADOS

O ministro da Previdência, Amir Lando, deve mesmo sair do governo. O trabalho de Lando chegou a ser assunto, ontem pela manhã, da reunião de Lula com o núcleo de coordenação política do governo. Tanto no Planalto como no PMDB o comentário é um só: Lando não representa o partido no Senado. Ele deve ser trocado por um nome indicado por Renan e o mais cotado, hoje, é o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Durante o encontro de ontem, em seu gabinete, Lula comemorou o fato de não ter feito a reforma ministerial antes da eleição para a presidência da Câmara, que impôs grave derrota política ao governo e mostrou a fragilidade da base aliada. "Se eu tivesse feito, teria de fazer de novo", disse.

O presidente disse com todas as letras que precisa saber com quem pode contar do PMDB, uma sigla dividida em várias facções. Traduzindo: vai esperar a solução da novela envolvendo a escolha do líder do PMDB na Câmara para fechar a reforma. Ele retomará as conversas com o partido na quinta-feira, quando voltar do Uruguai. Atualmente, o grupo governista na Câmara está em desvantagem.

"Eu disse ao presidente que não tenho como garantir a unidade do PMDB, infelizmente", observou Renan. "Tenho buscado o acordo, mas não estou conseguindo. A grande verdade é essa", completou o presidente do Senado.

Para o PP de Severino Cavalcanti, uma das hipóteses cogitadas era o Ministério dos Esportes, hoje ocupado por Agnelo Queiroz (PC do B). Agora, porém, depois da crise política que se instalou em Brasília por causa do discurso de Lula no Espírito Santo - no qual ele disse ter pedido a um "alto companheiro" de estatal para silenciar diante de um suposto esquema de corrupção no governo Fernando Henrique -, o presidente precisará de Severino. O PP, portanto, deve ganhar pasta mais robusta.