Título: UE e Liga Árabe reagem pedindo a retirada síria
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2005, Internacional, p. A13

A renúncia do primeiro-ministro libanês, Omar Karami, surpreendeu a União Européia e os países do mundo árabe, que não a esperavam pelo menos da forma tão rápida como ocorreu. A Comissão Européia (órgão da executivo da UE) voltou a pedir à Síria que cumpra os termos da Resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU e retire suas tropas do Líbano.

Idêntico apelo foi feito pela Liga Árabe, através de seu secretário-geral Amr Moussa. Ele disse que agora vai trabalhar com libaneses e sírios para "implementar" os acordos de Taif (1986) que puseram fim à guerra civil libanesa e fixaram as bases para a retirada das forças sírias do país.

Já o chanceler do Egito, Ahmed Aboul Gheit, disse ser absolutamente necessário que todas as partes se unam para evitar uma explosão de violência no Líbano. "Todos nós devemos trabalhar juntos para que isso não aconteça", disse ele.

Em Damasco, o governo sírio evitou o tema. "Um assunto interno do Líbano que deve ser decidido nos termos da Constituição daquele país", limitou-se a dizer um porta-voz da Chancelaria síria.

Surpresa, a Chancelaria francesa interpretou a renúncia de Karami como resultado de uma "aceleração do processo".

Amigo particular de Hariri, o líder libanês assassinado, o presidente francês, Jacques Chirac, voltou ontem a exigir a retirada das tropas sírias do Líbano para facilitar as eleições legislativas naquele país árabe. O líder francês passou em revista a crise libanesa com seu colega polonês, Aleksander Kwasniewski, numa reunião de cúpula sobre questões bilaterais na cidade francesa de Arras.

A formação de um governo de união nacional e a convocação de eleições antecipadas devem ser o próximo passo no caminho da liberdade e da soberania do Líbano, opinou ontem Walid Jumblat, principal líder druso da oposição libanesa, para a TV francesa, minutos depois da renúncia.

Segundo Jumblat, é indispensável que uma comissão parlamentar de inquérito esclareça o assassinato do ex-chefe primeiro-ministro Rafic Hariri e os responsáveis sejam presos. O líder druso está convencido de que alguém do governo Karami é cúmplice do atentado que matou Hariri.

Jumblat destacou que a maior parte dos dirigentes de seu país - cristãos , muçulmanos e drusos - é favorável a um governo de união nacional. E apontou divergências com os Estados Unidos e a França que, além da imediata retirada das tropas sírias do Líbano, defendem sanções contra o Hezbollah. Ele opõe-se à aplicação de punições contra aquele grupo considerado pelos libaneses um símbolo da luta de libertação dos territórios ocupados no sul do país por Israel.