Título: Passageiro faz contas e reclama
Autor: Bruno Paes Manso
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Metrópole, p. C4
Os passageiros já planejam seus gastos a partir de sábado, com o reajuste de 17,65%. A dona de casa Alia Gemha fez as contas ontem com a diarista Vera Lúcia Pereira de Jesus, que pega dois ônibus por dia. Ela ganha R$ 250,00 e, se tivesse de tirar daí os R$ 80,00 de condução, não sobraria muita coisa no fim do mês. "Esse custo é muito alto pra eu deixar por conta dela. A Prefeitura deveria ter uma tarifa com valor simbólico para quem tivesse carteira assinada e dependesse do transporte público para trabalhar", diz Alia. Para ajudar nas contas da patroa, Vera dispensa outras duas conduções e anda cerca de duas horas por dia para chegar ao ponto. "O pior é que a tarifa sobe, mas os ônibus continuam cheios e chegando atrasados." O gasto da estudante de pedagogia Marcele Barbosa com transporte representa 37,77% de seu salário na Secretaria Municipal de Saúde. Ela recebe passe para o trajeto do trabalho e usa a carteira de estudante ir à Universidade de São Paulo. "Pego seis ônibus por dia e, se não fosse todo esse subsídio, não ia dar. Quero ver agora com o aumento como vou me virar", diz ela, que mora no Jaguaré e trabalha na Freguesia do Ó. "Já que Serra não cumpriu a promessa de não aumentar o preço do bilhete, pelo menos manteve o bilhete único."
A gerente administrativa Carla Cristina Clarízia vai cortar despesas. "Vou ter de regular no custo do almoço para balancear os gastos", diz. Outra saída é a negociação com a empresa para que os custos sejam rateados. "Vou conversar, mas acho difícil conseguir."
Pelo menos por esse desgaste os seis funcionários do escritório de contabilidade Romanini não vão passar. "Nós vamos ter de engolir mais esse aumento. Daqui a pouco vamos pagar para trabalhar", diz Patrícia Santana, responsável pela administração da empresa. Segundo ela, o repasse desses custos para os clientes está descartado por ora.