Título: BC atrapalha o Tesouro ao elevar reservas internacionais
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2005, Economia, p. B1

As compras de dólares, pelo Banco Central (BC), para engordar as reservas do País podem atrapalhar os planos do Tesouro Nacional de este ano reduzir em pelo menos R$ 10 bilhões o dinheiro que sobra diariamente no caixa dos bancos e precisam ser absorvidos pelo BC para evitar a queda da taxa de juros abaixo da Selic. Só em janeiro, o BC comprou US$ 2,6 bilhões. Com isso, ficou com dólares e pôs reais no mercado no montante equivalente, elevando a quantidade de dinheiro no sistema. Esses recursos extra precisam ser absorvidos com o lançamento de títulos de curtíssimo prazo para evitar excesso de liquidez, o que influenciaria a formação da taxa de juros entre as instituições financeiras. Por isso, foram vendidos R$ 9,7 bilhões em papéis do governo em janeiro. Isso contribuiu para a elevação de R$ 26 bilhões registrada no total da dívida em títulos entre o fim de 2004 e o primeiro mês de 2005.

Hoje, essa sobra diária nos bancos está perto de R$ 60 bilhões. Esse é considerado um valor elevado e a idéia do governo é fazer com que bancos e fundos adquiram títulos públicos de prazo mais longo, em vez de ficarem girando diariamente os recursos com essas operações. No passado recente, essa sobra de dinheiro foi de R$ 2 bilhões. Desde a crise de confiança vivida pelo País no fim de 2002, quando o governo teve dificuldade em vender títulos no mercado, a preferência por manter dinheiro em caixa no fim do dia aumentou significativamente.

A expectativa da equipe econômica é que essa situação se reverta e, segundo o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, isso já começou a ocorrer com as novas regras de tributação dos fundos de investimento, que induzem a compra de títulos de longo prazo. Daí ter sido incluída no Plano de Anual de Financiamento da Dívida Pública (PAF) a previsão de reduzir as sobras em pelo menos R$ 10 bilhões. Mas, quando o BC eleva as compras de dólares, parte desse esforço é anulado. Segundo fontes do governo, porém, isso não será eterno.