Título: Coreanas com fome de mercado
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2005, Economia, p. B15

Rivais na terra natal, a Coréia do Sul, as empresas Samsung e LG Electronics estão com os dentes afiados para abocanhar o mercado brasileiro de eletroeletrônicos. As empresas traçaram uma ambiciosa estratégia para aumentar sua presença no País, onde vendem telefones celulares, TVs com telas de plasma e cristal líquido, aparelhos de DVD, home theatres e outros produtos. Uma amostra do poder de fogo das duas empresas poderá ser vista a partir de hoje no Expo Center Norte, durante a 15.ª Telexpo, onde elas apresentarão suas novidades em telefonia. A Samsung, que tem unidades em 46 países, colocou o Brasil entre os seis países prioritários para seus novos negócios. Aqui já tem duas fábricas, em Manaus e Campinas, e dois dos 17 centros de pesquisa e desenvolvimento que mantém espalhados pelo mundo. Só no ano passado, investiu US$ 100 milhões por aqui. Este ano estuda a possibilidade de trazer para o País produtos de sua chamada linha branca - basicamente lavadoras de roupa e geladeiras de desenho arrojado, alta tecnologia e preços estratosféricos.

Também avalia a possibilidade de vender computadores do tipo notebooks e produzir impressoras na sua fábrica de Manaus. "Ainda não definimos todos os lançamentos, mesmo porque temos uma agilidade muito grande para colocar esse produtos no mercado. Uma vez definidas as linhas, elas chegam às lojas em questão de semanas", explica José Roberto Campos, vice-presidente executivo da Samsung brasileira.

No ano passado, a Samsung teve um crescimento de 46% no País e seu faturamento bateu US$ 700 milhões. Neste ano, a ambição da empresa é se manter na taxa de dois dígitos. "O ano passado foi excepcional. Lançamos nossa linha de vídeo. Nosso desafio é continuar apresentando novos produtos para continuar o crescimento", diz Campos.

A LG, empresa que chegou ao Brasil em 1997, exibe um colar de títulos. Combinando tecnologia com preços agressivos, conquistou a liderança do mercado de displays de plasma e projeção, de monitores de computador e de aparelhos de ar-condicionado do tipo split. E ainda é líder dos celulares topo de linha, os chamados high-end. Na área de televisores, está em segundo lugar - só perde para a Philips. Tem três fábricas no País - duas em Manaus e uma em Taubaté. Atualmente, conclui uma segunda unidade em Taubaté, na qual está investindo US$ 40 milhões, e planeja erguer uma terceira fábrica em Manaus. Faturou US$ 830 milhões em 2004 e agora quer chegar a US$ 1,1 bilhão em 2005.

"Nossa meta é ser líder de mercado em todos os segmentos", diz Eduardo Toni, gerente de marketing da empresa. Recentemente, a direção mundial da LG anunciou o nada modesto plano da empresa de se tornar uma das três potências mundiais da eletroeletrônica, juntamente com a Philips e a Sony.

Os planos ambiciosos da LG e da Samsung para o Brasil vêm escorados em uma embalagem que junta desenho arrojado, produtos diferenciados e muita tecnologia. As duas empresas competem de igual para igual com as rivais japonesas nas disputas pelas maiores TVs de plasma e de cristal líquido ou os celulares mais bacanas. E em quase todas as disputas têm saído vencedoras.

A Samsung, uma potência na área de semicondutores e microchips, viu no ano passado o valor de sua marca saltar de US$ 10,8 bilhões para US$ 12,5 bilhões no ranking elaborado pela consultoria americana Interbrand. Com isso, ficou à frente de ícones como Pepsi, Nike e Louis Vuitton. Ontem, o vice-presidente mundial da empresa, Yun Jong-yong, afirmou a investidores que as perspectivas do mercado global de eletrônicos não são muito animadoras, uma vez que o crescimento da economia mundial tem crescimento lento e as vendas domésticas na Coréia estão à beira da estagnação. Mesmo assim, as vendas devem crescer US$ 1 bilhão.

Essa situação não diminui o apetite pelo Brasil - muito pelo contrário. Aqui, a Samsung já elegeu como rivais marcas poderosas como Sony, Philips, Motorola e Nokia. São praticamente os mesmos alvos da LG Electronics, que acrescenta ainda à lista a Cônsul e a Carrier na área de ar-condicionado. É uma briga em que os coreanos dizem ter entrado para ganhar.