Título: Em Roraima, juiz que está sob suspeita assume TJ
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Nacional, p. A13

Sob suspeita da Operação Pretorium - missão da Polícia Federal que investiga suposto esquema de pagamento irregular de diárias a servidores e desvio de verbas públicas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Roraima -, o desembargador Mauro Campello assumiu a presidência do Tribunal de Justiça do Estado. A posse de Campello ocorreu em sessão solene no TJ, segunda-feira, para mandato até 2007. Seus pares, outros 6 desembargadores, o elegeram por unanimidade para o cargo, em dezembro. A festa da toga em Boa Vista foi prestigiada pelo vice-governador Erci de Moraes, o procurador-geral de Justiça em exercício, Fábio Stica, advogados e promotores.

O desembargador afirmou que pretende ampliar a atuação da Justiça. "Queremos levar o atendimento na porta do cidadão", anunciou. Observou que "num país pobre, com péssima distribuição de renda, o Judiciário é sempre a porta da esperança dos desvalidos".

A chegada de Campello ao topo do Judiciário de Roraima provocou reação do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Estado, Antonio Oneildo Ferreira, que ontem, no site da OAB nacional, pediu celeridade na condução do inquérito sobre prevaricação e quadrilha, no qual é citado o desembargador.

O inquérito está sob responsabilidade do Superior Tribunal de Justiça. A corte tem competência legal para investigar desembargadores, que têm foro privilegiado assegurado na Constituição. "O caso deve ser conduzido com prioridade máxima porque se trata da imagem do Judiciário."

A Operação Pretorium aponta para um grupo de servidores do TRE de Roraima que teria forjado horas extras para dobrar salários e simulado viagens para receber diárias durante um ano e meio. Parte dessas despesas teria sido bancada com recursos destinados ao custeio das eleições do ano passado. O TRE estava sob presidência de Campello.

Desencadeada em fevereiro, a ação da PF levou à prisão a mulher e a sogra do desembargador. Ambas já estão em liberdade. Quatro servidores do TRE e um motorista do TJ foram presos.

"A apuração completa dos fatos vai revelar o festival de atrocidades jurídicas que se praticou, com escutas telefônicas clandestinas e invasão de domicílio do desembargador", reagiu o advogado Paulo Ramalho, defensor de Campello. Em carta ao presidente da OAB nacional, Roberto Busato, ele destacou que o presidente do TJ também quer celeridade na investigação.

Ramalho observou que a mulher e a sogra de Campello foram submetidas à "humilhação pública". Ele atribuiu a operação à "inimizade pessoal do juiz federal local contra o desembargador". O advogado enfatizou: "Campello é presumidamente inocente e, como tal, não podia ter cerceado o direito de tomar posse como presidente do TJ."