Título: Tratamento com células adultas já traz benefícios
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Vida &, p. A20

A aprovação pela Câmara das pesquisas com células-tronco embrionárias não significa que doenças hoje incuráveis começarão a ter a cura de uma hora para outra. Mas, sem dúvida, traz esperança para muita gente. Mesmo as células-tronco adultas, menos potentes e versáteis que as embrionárias, já estão beneficiando algumas pessoas no Brasil, como as três citadas abaixo.

SALVADOR

As células-tronco mudaram a vida do agricultor Aílton da Cruz Tibúrcio, de 51 anos. Portador do mal de Chagas, ele recebeu um transplante de 270 milhões delas, retiradas de sua medula óssea, que foram injetadas nas artérias do seu coração. Um mês depois, sua melhora era visível. Antes do tratamento, ele mal conseguia andar por falta de fôlego. Hoje passa o dia na roça, no município de Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, cultivando legumes e banana. "Eu vivia cansado, nem conseguia dormir direito", conta. "Não tinha muita esperança de viver por muito tempo na época, aí entreguei minha vida a Deus e ao conhecimento dos homens. Graças a Deus deu tudo certo."

RIO

Vida nova também tem hoje a dona de casa Maria da Pomuceno, de 55 anos,vítima de acidente vascular cerebral (AVC) agudo. Em agosto, ela recebeu uma infusão de 30 milhões de células-tronco adultas no cérebro. Foi o primeiro transplante desse tipo no mundo feito em paciente de AVC. Dezessete dias após o procedimento, Maria já andava sozinha, sem a ajuda de cadeira de rodas, e movia os braços. Um quadro muito diferente do apresentado ao ser internada, quando chegou sonolenta, incapaz de falar e compreender o que lhe diziam e com o lado direito do corpo paralisado. "Tenho certeza de que se minha mãe tivesse recebido as células-tronco embrionárias a melhora seria ainda maior e até a fala ela teria recuperado", diz seu filho, o segurança Márcio da Costa. "As células adultas agem até um limite; o poder das embrionárias é ilimitado."

RIBEIRÃO PRETO

O professor de educação física Isaac Miguel do Nascimento, de 60 anos, do Recife, é outro que pode se beneficiar do tratamento com células-tronco. Ele está desde outubro em Ribeirão Preto, onde se recupera de um transplante inédito no Brasil, usando célula-tronco: o de esclerose lateral amiotrófica. O transplante ocorreu em 3 de janeiro e a equipe médica da USP, que acompanha sua evolução, está preparando-o para deixá-lo voltar ao Recife. Nascimento faz exames diários e a sua recuperação é lenta. "Ele ainda está fraco, não se alimenta bem e não sabemos se o transplante deu certo, mas temos esperanças", diz sua mulher, Onocleide. "Mas dá para ver algumas melhoras. Ele não morde mais a bochecha nem a língua, que travava o maxilar. É uma questão de paciência."