Título: Pensar faz bem para a memória
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Vida &, p. A23

Na mitologia grega, as musas inspiradoras de filósofos, músicos, poetas e matemáticos são filhas de Mnemosine, a deusa da memória. Na medicina moderna, a relação simbólica ganha sentido e explicação científica. É consenso entre especialistas que as atividades intelectuais são a melhor maneira de preservar a memória. Para evitar a perda gradual, comum com o avanço da idade, é preciso exercitar a mente. Para isso, vale aprender idiomas, praticar jogos, tocar instrumentos, pesquisar sobre algum assunto e ler bastante - quanto mais melhor.

"Estudos mostram que quem exercita a mente tem menos problemas de memória. É um fator de prevenção, que mantêm ativas as conexões cerebrais", diz o neurologista Rubens José Gagliardi, vice-presidente do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina. De acordo com ele, as perdas de memória são mais comuns em quem exercita pouco o cérebro.

"Se, durante a vida, a pessoa usou todas as possibilidades do cérebro, ela fez um maior número de sinapses e desenvolveu mais a massa de neurônio", diz Fábio Nasri, da Clínica de Memória do Hospital Albert Einstein. Ele cita, como exemplo, um estudo feito em 1996 na Universidade de Kentucky, que comparou a capacidade mental de freiras na época a textos que elas escreveram 60 anos antes. As que usaram palavras mais elaboradas e sentenças com idéias ricas tornaram-se mais vigorosas na velhice. Freiras que desenvolveram Alzheimer fizeram redações simples.

Mas é preciso também combater os fatores que afetam a memória, explica Alberto de Macedo Soares, presidente da Sociedade de Geriatria de São Paulo. Entre eles estão distúrbios de sono, depressão, stress e cansaço mental. Na parte física fazem parte distúrbios da tireóide, falta de vitamina B12 e doenças no fígado. Por isso, recomenda-se que, ao perceber lapsos constantes, a pessoa procure um médico. "É importante diagnosticar Alzheimer cedo, porque hoje há remédios para estabilizar os prejuízos da doença."

Mais temido, por ser irreversível, o Alzheimer é uma doença degenerativa, que avança lentamente e ainda não tem cura. As causas da doença não são totalmente conhecidas, sabe-se somente que há um fator familiar. A doença está sendo abordada na novela Senhora do Destino, da Rede Globo, onde uma personagem já apresenta os sinais da doença, como esquecimento.

No entanto, a maioria dos problemas de memória tem tratamento. É o caso do engenheiro Henrique Hirschfeld, de 77 anos, que começou a ter dificuldades há cinco anos "Quando ia para Serra Negra, não me lembrava do nome de uma ponte pela qual sempre passava." Para relembrar, ele associou o nome da ponte a outro nome, uma técnica que aprendeu no médico. De acordo com a psicóloga do Setor de Neuropsicologia e Psicologia de Reabilitação do Albert Einstein, Camila Prade, a tendência atual para "tratar" da memória, além dos exercícios tradicionais, são justamente simulações relacionadas à rotina da pessoa.