Título: IBS questiona a redução
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Economia, p. B3

O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) reagiu à redução das alíquotas de importação de aço afirmando que os setores que defendem a medida tiveram "desempenho fantástico" em 2004 e levantando a suspeita de que esses segmentos querem ganhar poder de negociação comercial. Para o IBS, a decisão representa "mudança de regras", e no momento em que as siderúrgicas estão investindo cerca de US$ 12,8 bilhões em modernização e expansão. Segundo o vice-presidente executivo do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, os segmentos que pressionaram o governo pela medida tiveram forte desempenho e exportações em 2004, "o que atesta que não tiveram perda de competitividade alguma". "A suspeita que fica é que estes setores, na verdade, não querem importar, mas aumentar o poder negocial junto ao setor siderúrgico", disse o executivo ontem, sem especificar os setores. Lopes também afirmou que estes segmentos já poderiam estar importando via Mercosul ou por um mecanismo chamado draw back (que gera crédito de importação conforme a exportação), mas não fizeram isso.

O executivo citou que, em 2004, as siderúrgicas reduziram as exportações para atender ao mercado doméstico e disse que foi feito alarde em cima de aumentos de preços "que não ocorreram por parte do setor siderúrgico". "Os setores consumidores estavam abastecidos a preços competitivos e não víamos e não vemos razão para que se dê uma redução de impostos quando há vários acordos de negociação no mundo. Estamos dando redução sem nada ter em troca por parte dos concorrentes (de outros países)."

Apesar da redução de impostos, Lopes indicou que os investimentos do setor não estão ameaçados. Temos muita seriedade diante de nossos compromissos, mas não dá para não comentar que um setor que está investindo US$ 12,8 bilhões esteja fazendo isso com o risco de mudança de regras, e isso é uma mudança significativa".

PRECEDENTE

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) qualificou como "válida" a tentativa do governo de evitar um repasse da alta do aço para a cadeia produtiva, mas demonstrou preocupação que se abra precedente para outros setores. "Não é desejável dar prioridade ao mercado externo sobre o fabricante nacional", disse o vice-presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro.

Para ele, o governo tenta oferecer mais uma alternativa, a da importação, "teoricamente num preço menor do que no mercado interno". A questão, indicou Castro, é que a cotação do produto no País é praticamente igual à do exterior.