Título: Indústria espera menos aumentos
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Economia, p. B3
A decisão do governo federal de zerar a alíquota de importação de 15 tipos de aço, anunciada ontem pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) pode ser um importante argumento para as siderúrgicas reverem o novo aumento do preço da matéria-prima, previsto para este mês. Essa é a expectativa dos fabricantes de automóveis e de eletroeletrônicos, dois dos setores que desde o ano passado reivindicavam a suspensão da taxa de importação do aço como forma de pressionar as usinas contra aumentos constantes de preços. "Ao retirar a taxa de importação, o governo dá maior flexibilidade para que as empresas possam trazer o aço de fora", disse Rogélio Golfarb, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A entidade liderou um grupo de representantes dos dez setores que mais consomem aço no País para pedir medidas ao governo, entre as quais a suspensão da alíquota do aço, que é de 12% a 14%, considerada por ele "uma importante barreira."
O presidente da Eletros, entidade representativa das indústrias eletroeletrônicas, Paulo Saab, disse que o aço já subiu 15% em janeiro e novo aumento deveria ocorrer este mês. O motivo, agora, seria o repasse da elevação do minério de ferro, que deve ficar na casa dos 70%, índice já aplicado por diversas companhias, entre as quais a Vale do Rio Doce, para clientes no exterior.
"A medida serve de instrumento de pressão e cria alternativas de fornecimento", disse Saab. Até ontem à noite ele não tinha informações se o setor seria beneficiado. A lista dos 15 produtos que terão a alíquota zerada será publicada hoje no Diário Oficial. Ele disse que várias empresas já importaram o produto no período de crise de fornecimento.
Já o aço usado pelas montadoras está na lista da Camex. O produto responde por 33% do custo de um veículo. Há dois anos, essa participação era de 15%. Na semana passada, o presidente da Ford, Antonio Maciel Neto, afirmou que o aço lá fora é mais barato e a importação poderia criar maior competição.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) qualificou como "válida" a tentativa do governo de evitar um repasse da alta do aço para a cadeia produtiva, mas demonstrou preocupação que a decisão possa abrir um precedente para outros setores. "Não é desejável dar prioridade ao mercado externo sobre o fabricante nacional", disse o vice-presidente executivo da entidade, José Augusto de Castro, ao comentar o risco de outros setores seguirem o mesmo caminho e exigirem redução de alíquotas para insumos.
Para o especialista, o governo tenta dar outra alternativa às indústrias que consomem aço, de comprar no mercado internacional, "teoricamente num preço menor do que o do mercado interno". A questão é que a cotação do produto no País é praticamente a mesma do que no exterior.