Título: De volta à terra natal, Severino dança o frevo e canta Lula por cargos
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Nacional, p. A11

O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP), disse ontem, no Recife, que o presidente da República é quem tem que decidir "se vai cumprir o débito que tem com o seu partido", incluindo o PP no seu ministério. "O PP foi o partido que mais deu apoio ao presidente Lula e quem diz isso não é o PP, mas o próprio presidente", afirmou ele, em entrevista coletiva em meio a uma festa-homenagem no Clube Internacional no Recife. Logo em seguida, o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo (PC do B), que o acompanhou na viagem a Pernambuco, destacou que "o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um compromisso antigo de integrar o PP no ministério e todas as condições para atender a esse compromisso". O presidente nacional do PP, deputado federal Pedro Corrêa, antecipou que "só iremos para o governo se reconhecerem o tamanho do PP", numa indicação de que um ministério é pouco. A não ser quer ele pudesse escolher: "Eu escolheria o da Fazenda", disse em tom de brincadeira, mas sem dissimular uma barganha. "A presidência da Câmara vale mais que todos os ministérios do governo juntos", disse. "Com a Câmara você manda em tudo, quem faz a pauta da votação é o presidente."

Ele disse que o partido mantém sua postura de independência, mas frisou que se vier a integrar o ministério, o PP fica "automaticamente atrelado ao governo".

Paulo Maluf, que também foi receber o presidente da Câmara, com um grupo de sete integrantes do PP de São Paulo, chegou a sugerir nomes: Afonso Celso Pastore, Pedro Henry, Francisco Dorneles e Delfim Netto. "Seria uma sorte para o presidente Lula se ele convocar pessoas gabaritadas do PP, gente de qualificação intelectual e moral." Ele disse estar prestigiando Severino, por ser um homem que ele conhece há mais de 20 anos e o julga "nota 10". "É um homem que tem coragem nesse mundo de políticos sem coragem."

IMPEACHMENT

Severino Cavalcanti reafirmou, seguindo uma tendência interna do PP, de não levar adiante um pedido de impeachment contra o presidente Lula. Disse que irá agir como um juiz e examinar, primeiro, qual o procedimento do PT quanto a pedidos semelhantes em relação ao ex-presidente Fernando Henrique e a posição do PSDB quanto a esses pedidos. "Quero ver os critérios, analisar, não vou fazer nada de oitiva."

Ele disse não precisar do apoio do governo, mas de compreensão, para que se respeite o Poder Legislativo, e frisou não ter havido vencidos nem vencedores quanto ao projeto de aumento salarial que ele defendia e que nem sequer chegou a ser apresentado. "Houve bom senso, que é o que vai imperar nestes dois anos de Mesa Diretora." Ele reafirmou a disposição de acompanhar a tendência da Casa e da opinião pública nas votações e assegurou que a Medida Provisória 232 representa um retrocesso e que irá fazer tudo para ela seja rejeitada.

HOMOSSEXUAIS

Com imagem de homofóbico, ele afirmou que irá receber os movimentos gays de braços abertos e, embora seja contra a união civil entre homossexuais, "colocaria em votação projeto neste sentido no momento oportuno e depois de pareceres de todas as comissões".

Severino disse que não agiria com a descortesia com que o presidente do Senado, Renan Calheiros, agiu - "Cada um dá o que tem, e o que ele tinha para dar era aquilo" -, ao não aceitar dar aumento salarial dos deputados sem votação e anunciar publicamente sua decisão antes de falar com o presidente da Câmara.

Severino procurou contemporizar, entretanto, ao garantir que não haverá problemas no relacionamento entre a Câmara e o Senado e que o presidente do Senado "não é teleguiado do presidente da Câmara".