Título: Seqüestros prosperam na sucursal do inferno
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Internacional, p. A16

Fala-se muito nos reféns europeus no Iraque, mas há dezenas de outros, procedentes do mundo inteiro - motoristas, operários -, dos quais não se fala. Há um refém brasileiro (ler abaixo). Na França, pelo menos, seu caso nunca foi comentado. A verdade é que, se as primeiras tomadas de reféns foram claramente políticas, em seguida toda uma indústria entrou em funcionamento. Indústria mafiosa? Em parte. Mas mais freqüentemente, meio mafiosa e meio política.

Quantos são esses grupos? - perguntou-se ao chefe de polícia iraquiano. "Muitas centenas, todos muito bem organizados", foi a resposta.

A indústria do seqüestro cresceu a partir do momento em que os seqüestradores conseguiram receber belos resgates. Em setembro de 2004, duas jovens italianas - as duas Simonas - foram seqüestradas. O governo italiano se movimentou. As duas foram libertadas. Autoridades italianas deram a entender que o pagamento de uma soma enorme havia possibilitado a libertação.

A partir daí, todo estrangeiro no Iraque virou um pequeno cofre-forte. Um policial iraquiano resumiu: "Com esse jeitão ocidental, é como se vocês pusessem na testa a etiqueta 'Seqüestrem-me. Valho milhões'".

Não há, é claro, uma tabela oficial de resgates. Cada caso é um caso. Um homem rico, ou de um país rico, vale muito mais que um pobre pedreiro do Sri Lanka ou uma faxineira. Um professor iraquiano foi libertado após o pagamento de 20 mil - uma fortuna num país como o Iraque.

Quando a caça é gorda, os raptores ficam mais famintos. Um empresário árabe só foi libertado após o pagamento de US$ 1 milhão.

A cada dia, novas vítimas são seqüestradas, surradas, torturadas, mantidas no escuro. Negocia-se com suas famílias ou seus governos. Às vezes são libertadas. Às vezes assassinadas. O Iraque virou uma sucursal do inferno.