Título: Refém italiana é ferida por americanos após ser libertada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Internacional, p. A16

A jornalista italiana Giuliana Sgrena, de 56 anos, foi solta ontem por seus seqüestradores no Iraque, mas quando atravessava um posto das forças de ocupação dos EUA, a caminho do aeroporto de Bagdá, seu carro foi alvo de disparos de soldados americanos. Os tiros a atingiram no ombro e mataram o agente secreto italiano, Nicola Calipari, de 50 anos. Giuliana e os outros dois agentes italianos que estavam no veículo e também ficaram feridos foram levados para um hospital militar dos EUA. Ela não corre perigo, mas outro agente está em estado grave.

O trágico desfecho levou o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi - um dos principais aliados dos EUA no Iraque -, a convocar o embaixador americano em Roma, Mel Sembler, para explicações. "Tem de haver uma explicação para um fato tão grave, pelo qual alguém precisa responsabilizar-se", disse Berlusconi aos. Calipari morreu ao proteger Giuliana com seu corpo, disseram Berlusconi e o jornalista Gabriele Polo, editor do diário de esquerda Il Manifesto, no qual ela trabalha. Polo, Berlusconi e o companheiro de Giuliana, Pier Scolari, festejavam a libertação quando receberam a notícia do incidente.

Chefe da equipe que negociou a libertação de Giuliana, Calipari havia participado de outras operações de resgate no Iraque. Porta-vozes das forças dos EUA em Bagdá alegaram que o veículo se aproximou do checkpoint a alta velocidade e os militares só dispararam "no motor do carro" porque o motorista teria ignorado advertências com sinais de braço e luzes para que parasse. Não ficou claro como os disparos no motor atingiram os italianos.

A Casa Branca emitiu um comunicado lamentando o incidente, mas não mencionou medidas para apurar os fatos. "Desejamos a ela uma recuperação rápida. Lamentamos a perda de uma vida", disse o porta-voz Scott McClellan.

Correspondente do Il Manifesto, jornal contrário à invasão do Iraque, Giuliana foi seqüestrada em 4 de fevereiro em Bagdá. Ontem, a TV árabe Al-Jazira divulgou um vídeo no qual ela agradece seus captores por ter sido bem tratada. Não ficou claro se a Itália pagou resgate. Segundo a imprensa italiana, o país pagou US$ 1 milhão pela libertação das voluntárias italianas Simona Parri e Simona Torretta, em setembro.