Título: Gaúchos fazem cirurgia inédita com células-tronco
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Vida &, p. A26

Uma equipe do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), fez uma cirurgia inédita de aplicação de células-tronco retiradas de medula óssea em nervos periféricos (fora da coluna) e obteve resultados animadores. O paciente, que havia rompido um nervo do antebraço, próximo ao pulso, voltou a movimentar os dedos apenas um mês e meio depois da intervenção. "Antes, isso levava seis meses", comparou o cirurgião Jefferson Braga Silva, ontem, ao apresentar o trabalho à imprensa, em Porto Alegre. "A partir de agora, podemos aplicar a mesma solução a pacientes com as mesmas características", anunciou a médica Denise Machado, da equipe de pesquisa em células-tronco, feliz com a perspectiva de oferecer uma alternativa mais eficaz para a solução de um problema que provoca uma média de três internações por semana no hospital.

As células-tronco usadas na intervenção - como em todos os outros projetos com células-tronco no Brasil até agora - foram as chamadas adultas, retiradas do organismo do paciente, e não as embrionárias, retiradas de embriões humanos, cujo uso está proibido até que a nova Lei de Biossegurança seja sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A cirurgia foi feita em fevereiro num paciente de 22 anos, cujo nome não foi divulgado.

Normalmente, as extremidades rompidas voltavam a crescer dentro de um tubo de silicone implantado pelos médicos, recompondo as substâncias perdidas. "Os resultados eram bons, mas, apesar da reconstituição do nervo, havia dificuldades para a recuperação funcional, da sensibilização e da motricidade", diz Silva.

MAIS BENEFÍCIOS

Na nova técnica, retirou-se material da crista ilíaca, na bacia, e separou-se as células-tronco em laboratório para injetá-las no tubo de silicone que fazia a ponte entre as extremidades rompidas.

Até chegar à primeira experiência em humanos, a equipe do Centro de Terapia Celular do Instituto de Pesquisas Biomédicas (IPB) do Hospital São Lucas passou cinco anos pesquisando. A primeira tentativa em seres vivos foi feita com ratos, há dois anos. A recuperação de todos os movimentos da perna de um animal que estava impedido de andar foi o prenúncio de que a técnica poderia beneficiar os humanos.

Outro aspecto animador da técnica é o custo, considerado pequeno - cerca de R$ 1 mil para a retirada e a implantação das células-tronco - pelo diretor do IPB, Jaderson Costa da Costa. Ele acredita que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem interesse em cobrir o procedimento porque, ao fazer a equação, vai perceber que os cofres públicos pagariam mais por um trabalhador parado por lesões nos nervos.

A equipe do São Lucas também já desenvolveu protocolo para uso de células-tronco para recuperação da áreas cerebrais atingidas por isquemias. "Está tudo pronto e podemos começar assim que tivermos o primeiro paciente elegível", diz o coordenador do Programa de Doenças Neurovasculares, Maurício Friedrich.