Título: Hospitais formarão rede para tratar AVC
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Vida &, p. A30

Uma das principais causas de morte no País, o acidente vascular cerebral (AVC) motivou a criação de uma rede de referência em tratamento de emergência, que será lançada hoje, no Rio. A iniciativa é fundamental para reduzir o número de mortes e as seqüelas decorrentes do derrame, já que as chances de sobrevivência e os males permanentes diminuem drasticamente se o paciente for diagnosticado e medicado três horas após o início dos sintomas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC mata, anualmente, mais de 5 milhões de pessoas. Inicialmente, a Central AVC será formada por 35 hospitais, entre públicos e privados. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, idealizadora do projeto em conjunto com a Academia Brasileira de Neurologia, a proposta é criar uma rede nacional. "O objetivo é que a central se espalhe por todo o País, como ocorreu com as unidades coronarianas. Grande parte das mortes associadas ao AVC poderia ser evitada, com um pronto atendimento e diagnóstico rápido", avalia o presidente da sociedade, Jorge El Kadum Noujaim.

Fatal em 30% dos casos, o acidente vascular cerebral ocorre quando há o rompimento ou entupimento de um vaso sanguíneo que transporta oxigênio para o cérebro, causando lesões e, assim, alterando as funções controladas pelas áreas afetadas. O tipo mais comum é o isquêmico, ou seja, quando o vaso é obstruído por um coágulo - 85% dos casos. O restante é causado por hemorragia.

Embora admita ser necessária uma maior especialização dos profissionais, que nem sempre fazem o pronto diagnóstico, Noujaim destaca que o paciente tem papel preponderante. "Assim como os médicos, ele precisa estar alerta, pois há sintomas passageiros que não podem ser desprezados. Infelizmente, muitas pessoas não dão importância a sinais que desaparecem em pouco tempo, deixando para procurar ajuda apenas quando eles vêm mais fortes, deixando seqüelas irreversíveis", diz.

Hipertenso, safenado e ex-fumante, ou seja, vítima potencial de AVC, o aposentado Jairo Batista dos Santos, de 71 anos, nem titubeou quando passou mal no café da manhã. "Fiquei com o lado direito do corpo adormecido. A boca ficou torta e eu não conseguia mais engolir. Até melhorei, mas pedi imediatamente para ir ao médico." Essa rapidez pode tê-lo salvado, pois, pouco após chegar ao hospital, sofreu outro derrame, mais forte. "Atingiu 80% da minha visão", diz. Passados cinco meses, Santos fala e anda perfeitamente. "Só a visão que ainda não está boa."

JOINVILLE

Das 35 unidades que serão validadas pelo Ministério da Saúde para integrar a rede, sete estão no Estado de São Paulo, como os Hospitais Albert Einstein, São Luiz e o da USP. Com exceção do Norte, todas as outras regiões do País estão contempladas na fase inicial.

A vivência que a Central AVC quer levar para o Brasil já é realidade em algumas unidades isoladas. O Hospital Municipal São José, em Joinville (SC), criou um unidade especializada há oito anos, onde, além do tratamento, há reabilitação. "Trabalhamos por meio de uma visão global. Não é simplesmente atender a pessoa, dar alta e pronto. Há todo um acompanhamento", diz Carla Moro, chefe do setor.

Segundo ela, o maior problema em relação ao AVC não é a dificuldade de diagnóstico médico, mas a conduta da população. No hospital, um levantamento indicou que apenas 20% das vítimas buscam a unidade nas primeiras três horas após os primeiros sinais de AVC. "Cada minuto é essencial, por isso, é preciso encarar os sintomas suspeitos como um caso de emergência."