Título: Medidas foram bem recebidas pelo mercado
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, Economia, p. B4
As medidas de simplificação do câmbio, anunciadas ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) após o fechamento da Bolsa e do câmbio no Brasil, foram bem recebidas por analistas e chegaram a afetar o mercado de dívida externa, onde os títulos brasileiros subiram após o anúncio. O Global 40 fechou na máxima do dia, em alta de 1,50%. "As medidas liberalizam o mercado de câmbio e estão em linha com o discurso do Banco Central", diz a economista Renata Heinemann, do Pátria Banco de Negócios, acrescentando que, para o mercado, são preferíveis às medidas heterodoxas que vêm sendo sugeridas ao governo, como o controle de capitais por meio da taxação do investimento de curto prazo ou outros mecanismos.
O ex-diretor do Banco Central Emílio Garófalo avaliou como "muito positivas" as novas resoluções que unificam os mercados de câmbio e estabelecem novas regras para as exportações. "As medidas permitirão mais liberdade para o fluxo de capitais, pois a entrada e saída de recursos do País seguiam um arcabouço muito antiquado, gerado na década de 30", comentou. "O que foi determinado vai ser bom para as nossas contas externas, pois também desconcentrará o fechamento de câmbio de 50 dias para 210 dias. Com tudo isso, o risco Brasil deverá baixar com mais força, e tenderá a caminhar na direção dos 350 pontos."
Na avaliação de Garófalo, foram diminuídas consideravelmente as barreiras para o envio e ingresso de capitais pelo setor financeiro. "Agora, o cidadão que deseja remeter recursos para outro país vai ao banco onde tem conta e realiza a operação normalmente, sem limite", afirmou. "Isso vai eliminar o ágio cobrado no black, pois desde que surgiu no Congresso a CPI da lavagem de dinheiro muita gente não utilizava mais a chamada conta CC-5, que era legal mas tinha uma imagem de ser algo criminoso."
Para o ex-diretor do BC, os exportadores serão beneficiados com as novas medidas. Ele ressaltou que antes o empresário tinha pouco menos de dois meses para trazer ao Brasil os dólares obtidos com os negócios realizados no exterior. "Agora, o dirigente de companhia terá um prazo de sete meses. Isso é bom porque dá para escolher com mais calma quando será mais adequado para fechar o câmbio na cotação mais favoráve", afirmou. "Em vez de realizar a operação com o dólar valendo, por exemplo, R$ 2,55, poderá esperar alguns meses para realizá-la quando a cotação estiver mais elevada."
Garófalo acrescentou que, como "o capital só entra onde pode sair fácil", num primeiro momento a maior liberdade no fluxo de divisas poderá provocar um ingresso mais intenso de investimentos do exterior, o que pressionaria o câmbio para baixo. "Contudo, esse movimento se estabilizará com certa rapidez, quando as medidas forem assimiladas pelo mercado", comentou.
O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, classificou as mudanças como uma saudável "faxina normativa" no câmbio. Para Barros, elas simplificam as normas cambiais e desvinculam das contas CC5 a pecha de irregularidades que pairavam sobre as transações.