Título: Aço pode estar até 40% mais caro
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2005, economia, p. B5

Indústrias que dependem do aço para a produção começam a consultar bases de fornecimento no exterior para importar a matéria-prima. Na quinta-feira à noite, o governo federal anunciou a isenção do Imposto de Importação do produto, na tentativa de conter a alta de preços das siderúrgicas nacionais. O presidente da Ford Brasil e América do Sul, Antonio Maciel Neto, calcula que o preço no País é até 40% maior do que a matriz e outras subsidiárias do grupo pagam no exterior. "Vamos estabelecer contatos no mundo todo para verificar disponibilidade em nossos contratos para embarques imediatos", diz o executivo. Ele reconhece a dificuldade de oferta mundial do aço, mas acredita que "mais cedo ou mais tarde vamos conseguir". Segundo Maciel, nos EUA e na Europa as montadoras têm contratos de três a quatro anos com as usinas e por isso os preços são inferiores aos do País, onde as encomendas são pagas à vista.

"Pagamos hoje no Brasil de 30% a 40% acima do que pagamos em nossos contratos nos EUA e Europa, o que é um absurdo", critica Maciel. A decisão do governo, em sua opinião, foi "acertadíssima, pois dessa maneira pelo menos haverá competição no segmento". Mesmo com o custo do frete, afirma ele, a importação será vantajosa.

A decisão do governo de zerar o imposto de importação de 15 produtos siderúrgicos foi bem recebida pela Jaraguá Equipamentos Industriais. "Graças a Deus eles zeraram a alíquota", diz o superintendente comercial da empresa, Fuad Hamad. A empresa compra 100% das chapas de aço para a fabricação de equipamentos sob encomenda da Usiminas e da Cosipa. Agora, Hamad vai cotar o produto no exterior para os próximos pedidos. Segundo ele, há disponibilidade da matéria-prima na Europa e nos EUA.

No ano passado, um período excepcional para a empresa, foram consumidas 6 mil toneladas de chapas de aço. A pressão por aumentos foi intensa. Em 12 meses, o preço do aço em reais subiu 74%. "Para este mês, já há boatos de um novo ajuste entre 12% e 15%." Nas contas de Hamad, com a retirada do imposto e o reflexo em outros tributos, o preço do aço importado deve ficar igual ou um pouco mais barato do que o nacional. Hoje, a tonelada da chapa de aço nacional sai a R$ 5 mil. A importada custa cerca de R$ 6 mil, levando em conta o custo do frete e os impostos.

IMPACTO

A direção da General Motors calcula que o preço do aço não plano, usado principalmente em componentes, ficará mais competitivo do que o nacional. A empresa também analisa a importação do aço plano para carrocerias, pois a alíquota zero e o dólar atual ampliam o leque de alternativas para a compra da commodity.

Volkswagen e Fiat também informam que vão analisar a possibilidade de trazer parte da matéria-prima do exterior, via matrizes.Em 2004, a Volks importou 6 mil toneladas da Alemanha.

Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, o impacto da redução de 12% a 14% para zero da alíquota do aço não será imediato, pois depende de negociações das montadoras com as siderúrgicas.

A isenção era uma das medidas sugeridas pela Anfavea e outras nove entidades para conter os reajustes do aço. Outra proposta foi a de negociações de longo prazo com as siderúrgicas, como ocorre em outros países, mas isso não se mostrou viável. Golfarb ressalta que há custos logísticos de cerca de 20% na importação. "Não é no mês que vem que se consegue receber bobinas importadas". Ainda assim, ele considera a medida importante, pois facilitará as negociações futuras.

Golfarb sugere que as siderúrgicas absorvam o aumento de 71,5% no preço do minério de ferro, anunciado pela Companhia Vale do Rio Doce. "Temos a esperança de que o aumento seja absorvido na cadeia siderúrgica e não chegue até nós." Segundo a Anfavea, o aço aumentou 160% de janeiro de 2002 a dezembro de 2004. No mesmo período, os carros ficaram 54% mais caros, próximo da inflação do IGP, que foi de 53%.