Título: Para Itamaraty, medida exclui brasileiros
Autor: Eunice MoscosoCox News Service
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A6

Segundo o governo, lei beneficiaria apenas os imigrantes mexicanos e caribenhos BRASÍLIA - A promessa eleitoral do presidente George W. Bush de permitir a concessão de vistos temporários a estrangeiros dispostos a trabalhar em funções que nenhum americano hoje exerceria não se destinou a brasileiros ou a outros cidadãos sul-americanos ávidos em emigrar para os Estados Unidos, conforme avaliação do Itamaraty. Prestes a ser cumprida pelo reeleito Bush, que confirmou em discurso na última quarta-feira que vai encaminhar um projeto de lei com esse sistema ao Congresso, a promessa destina-se aos cerca de 10 milhões de mexicanos que vivem no país e aos imigrantes da América Central e do Caribe - na maioria, eleitores ou pais de futuros eleitores. Na visão do Itamaraty, uma eventual lei que permita o visto temporário pode facilitar a permanência de brasileiros que hoje vivem ilegalmente nos Estados Unidos e até mesmo evitar que novas levas deixem o Brasil sem um apropriado carimbo no passaporte. Mas a medida estaria longe de motivar uma "diáspora brasileira" para os EUA. Segundo um diplomata experiente no tema, cerca de 800 mil cidadãos brasileiros atualmente vivem na América. Em 2004, essa comunidade teria enviado US$ 1,5 bilhão para o Brasil - 39% do total da remessa de trabalhadores brasileiros no exterior.

A perspectiva de crescimento da economia brasileira neste ano, a apreciação da moeda brasileira em relação à americana e a severa triagem feita pelos consulados dos EUA e do México tendem a desmotivar o fluxo migratório.

AJUDA

As condições dos cidadãos brasileiros no exterior sempre fez parte da política externa do País. Mas, em seu discurso de posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinalou o tópico como prioridade para a diplomacia brasileira. Embora pouco tenha resultado em aumentos na estrutura e no número de funcionários à disposição dos brasileiros no exterior, por conta das restrições orçamentárias, a orientação vem sendo razoavelmente cumprida.

Neste ano, o Itamaraty decidiu reabrir o consulado em Atlanta, no Estado da Geórgia, o que elevará para dez o total de postos de atendimento ao brasileiro nos Estados Unidos, segundo informou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Em todos os consulados, a comunidade brasileira participa de discussões regulares sobre seus problemas, por meio de conselhos de cidadãos. Mesmo os ilegais contam com atendimento e orientação dos funcionários desses mesmos postos.

Do ponto de vista político, Brasil e Estados Unidos mantêm um mecanismo de cooperação consular e jurídico, que se reuniu em setembro passado pela oitava vez. Trata-se do fórum onde são discutidas questões de maior envergadura. Entre elas, as dificuldades nos trâmites para o ingresso de brasileiros nos aeroportos americanos, adotados por Washington há dois anos. Nessa instância, alguns pontos são claros, pelo menos do lado do Brasil: que a economia americana depende da mão-de-obra latino-americana disposta a funções menos qualificadas; que o brasileiro, mesmo o ilegal, nada tem a ver com o terrorismo internacional e é preferido pelos empregadores americanos. "A comunidade brasileira é ordeira. Proporcionalmente, é a que menos apresenta problemas criminais. Não dá trabalho às autoridades americanas, como ocorre com os colombianos e os russos", afirmou o diplomata. "O brasileiro, em geral, é valorizado pelos empregadores porque sabe atuar em equipe, é criativo e tem facilidade para aprender o inglês", completou.