Título: Estar lá, sem direitos, era muito difícil
Autor: Eunice MoscosoCox News Service
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A6

Em Governador Valadares, possível mudança nos EUA é recebida com euforia BELO HORIZONTE - Uma possível mudança na política imigratória norte-americana é acompanhada com ansiedade pelos moradores de Governador Valadares, cidade da região leste de Minas Gerais conhecida pelo grande fluxo migratório para os Estados Unidos. "Não tendo carteira de trabalho, você não pode tirar carteira de motorista, além de ganhar menos. Estar lá como imigrante, sem direitos, era muito difícil", recorda Heloísa Chamusco Resende, de 49 anos, que nos últimos dez anos trabalhou ilegalmente como babá (babysitter) na cidade de Danbury, no estado de Connecticut. Heloísa retornou ao Brasil no ano passado, mas suas duas filhas permanecem nos EUA. Na sua opinião, o mais importante é a segurança que a permissão proporcionará aos brasileiros que trabalham ilegalmente no país. "A falta de documentação não impede o imigrante de trabalhar, mas dificulta muito. É uma questão de segurança", salienta.

A notícia deixou o estudante universitário Alisson Siqueira Fernandes Grossi, de 20 anos, entusiasmado a fazer uma nova tentativa de entrar ilegalmente nos EUA. Em fevereiro do ano passado, ele foi detido pela polícia americana após cruzar a fronteira pelo México, um procedimento comum entre os valadarenses que se aventuram a "fazer a América".

Depois de passar por três presídios, Grossi foi deportado no final de março. "Mas eu não desisti e vou tentar novamente. Com essa possibilidade então, pretendo agilizar a viajem", diz o estudante de Publicidade e Propaganda, cujo pai, Romário Fernandes Grossi, de 49 anos, vive e trabalha ilegalmente na região de Boston desde junho do ano passado. "Minha mãe pretende ir agora. Ela chegando lá, eu fico aguardando para ir em seguida", conta ele.

VALADÓLARES

A Prefeitura de Governador Valadares estima que entre 30 e 40 mil ex-moradores da cidade vivem atualmente em território norte-americano. A grande migração ocorreu principalmente no final dos anos 80 e início dos 90. Desde então, a economia da cidade mineira, de 250 mil habitantes, passou a ser fortemente impactada pelo contingente de valadarenses que vivem fora. O dinheiro que eles mandam para o Brasil ganhou até o apelido de "valadólares", investidos principalmente no segmento de imóveis.

A maioria dos mineiros se estabelece nos Estados de Massachusetts, New Jersey e New York e encontram trabalho principalmente no serviço doméstico, na construção civil e em restaurantes, exercendo atividades pouco qualificadas.

O objetivo é basicamente um só: melhorar o padrão de vida. Ou seja, ganhar dinheiro mais rapidamente, adquirir bens na cidade de origem e, possivelmente, montar um negócio. "Comprei um sítio e agora tenho a minha casa própria", comemora Heloísa, que estuda abrir um estabelecimento comercial na cidade.

GOL

Muitos valadarenses, no entanto, acabam se fixando no território americano depois de conseguir o Green Card (visto de permanência no país). É o caso de Romero Faria, 38 anos, dos quais 17 vivendo nas proximidades de Boston.

Um ano depois de chegar aos Estados Unidos, Romero se casou com uma americana. Atualmente é dono de uma companhia de limpeza, onde emprega diversos brasileiros que vivem ilegalmente no país para "serviços ocasionais".

"O serviço do brasileiro não tem comparação com o do americano. Mas a falta de documentação impede que eles tenham garantias e representa um risco para mim", observa.

"Eu creio que, se isso (permissão de trabalho temporário) realmente acontecer, vai ser um gol enorme para os imigrantes brasileiros", acrescenta Romero.