Título: George Bush acena com licença temporária para trabalhadores ilegais
Autor: Eunice MoscosoCox News Service
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A6

É hora de uma política que permita a trabalhadores visitantes temporários preencher vagas que os americanos não querem, diz presidente WASHINGTON - Mais uma vez, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, faz pressão em favor de um projeto que poderá conceder licença de trabalho temporária a milhões de trabalhadores ilegais, dando aos defensores da imigração uma nova esperança que poderá se transformar em lei. "Está na hora de uma política de imigração que permita a trabalhadores visitantes temporários preencherem vagas que os americanos não querem, que rejeite a anistia, que nos diga quem está entrando e quem está saindo de nosso país e que feche as fronteiras para traficantes de drogas e terroristas", disse Bush na quarta-feira, no seu discurso Estado da União.

Mas o projeto ainda enfrenta sérios obstáculos, incluindo a forte oposição de um grupo de cerca de 70 conservadores da Câmara Federal liderados pelo deputado Tom Tancredo, republicano do Colorado.

Bush também falou desse plano no discurso de Estado da União no ano passado, mas o projeto não andou no Congresso.

Alguns analistas dizem que, este ano, as batalhas políticas sobre Previdência Social e reforma tributária que estão por vir poderão mais uma vez enfraquecer o entusiasmo pelo plano do trabalhador visitante.

Mesmo assim, defensores dos imigrantes, grupos hispânicos, legisladores e organizações empresariais estão cautelosamente otimistas de que o plano de legalização seja aprovado.

"Se fizermos isso de forma certa, deve ser uma vitória histórica", disse Cecilia Mu¿oz, vice-presidente do Conselho Nacional de La Raza, uma grande e influente organização de defesa dos direitos civis dos hispânicos.

A população de imigrantes ilegais nos EUA é avaliada entre 8 e 10 milhões, a maioria procedente do México e de outros países latino-americanos. Desses, acredita-se que ao menos 6 milhões estejam empregados, muitos trabalhando em hotéis, restaurantes, paisagismo, construção, trabalho doméstico e agricultura.

O projeto de trabalhador visitante delineado por Bush no ano passado seria uma alteração drástica na política de imigração desde 1986.

Daria aos imigrantes ilegais que já estão nos EUA a chance de se registrar para obter uma permissão legal para trabalhar por até seis anos. Após esse período, teriam de retornar à sua terra natal. As empresas precisariam comprovar que as vagas de emprego oferecidas aos trabalhadores estrangeiros não poderiam ser preenchidas por americanos.

Bush diz que o plano melhoraria a segurança nacional, criando um processo de imigração ordenado que identificaria as pessoas que estão trabalhando no país e permitindo que agentes da lei na fronteira se concentrem em encontrar traficantes de drogas e possíveis terroristas.

OPOSIÇÃO

Mas Tancredo e outros conservadores da Casa Branca - incluindo o deputado James Sensebrenner, republicano de Wisconsin, presidente do Comitê Judiciário da Câmara - estão se opondo firmemente a qualquer medida que dê status legal a imigrantes que violaram a lei entrando às escondidas nos Estados Unidos.

"No momento em que você fizer isso, acaba de criar a anistia", disse Tancredo. "Além disso", continua ele, "o plano de Bush seria injusto com as milhões de pessoas que estão esperando para entrar legalmente no país." "Não devemos lhes dizer que eles são todos um patos."

Membros da Câmara estão tentando reprimir violentamente a imigração ilegal. Existe a expectativa de que seja aprovado ainda esta semana um projeto de lei de autoria de Sensebrenner que torna mais rigorosas as leis para concessão de asilo e impede os Estados de concederem carteiras de motoristas a estrangeiros ilegais.

Eles alegam ter apoio da população, citando pesquisas de opinião que mostram que os americanos estão cada vez mais preocupados com a imigração ilegal e querem que o governo estanque o fluxo.

Em uma concessão ao poder deles, defensores do projeto de Bush refutam a palavra anistia, falando em "legalização" ou "regularização".

Historicamente o Senado tem sido mais simpático às propostas de anistia aos imigrantes. O senador John McCain, republicano do Arizona, um forte aliado de Bush, está trabalhando na legislação sobre imigração.

Daryl Buffenstein, advogado de imigração da Geórgia e ex-consultor-geral da Associação Americana dos Advogados da Imigração, disse que um pacote de reformas da imigração precisa ser abrangente e cuidar das pessoas que esperam há anos pelos green cards, o documento que comprova que são residentes legais.

Além disso, o plano teria de incluir alguma proposta para a residência legal dos trabalhadores temporários.

Segundo Bush, seu projeto não resulta em "cidadania instantânea".

APOIO

Alcy de Souza, proprietário de um restaurante em Washington chamado Grill From Ipanema, disse que o plano de trabalhador visitante faz todo sentido. "Essas são funções que os americanos não querem e não precisam fazer", disse ele. "Eles têm metas maiores, como cursar faculdade. Nunca vi um americano pedir emprego de lavador de pratos."

Alcy, que é brasileiro naturalizado americano, diz que tem contratado pessoas de todos os lugares do mundo para trabalhar em seu restaurante. Vários de seus atuais empregados são de El Salvador, país que tem um tratado especial de emigração com os EUA que permite mais licenças temporárias de trabalho.

Alcy de Souza planeja abrir um segundo restaurante e espera contratar imigrantes para quase todas funções. Disse que um programa de trabalhador visitante lhe permitiria trazer cozinheiros especializados de diferentes regiões do Brasil, algo impossível pela lei em vigor.

MÃO-DE-OBRA

Mark Krikorian, presidente do Centro de Estudos Sobre Imigração, entidade favorável a leis mais rigorosas para a imigração, diz que a maioria dos trabalhadores visitantes não vai querer voltar para sua terra natal. "Um projeto de trabalhador visitante pressupõe que possamos usar a mão-de-obra dessas pessoas e depois nos livrar delas. Nenhum programa de trabalhador visitante já conseguiu fazer isso em alguma parte do mundo", disse ele.

Além disso, Krikorian disse que Bush está pondo em risco muita coisa ao pressionar em favor de um plano para a imigração que contraria a maioria do Partido Republicano. "O presidente está emocionalmente comprometido em abrir a imigração", acrescentou ele. "Está projetando em todos os imigrantes os sentimentos que tem pelo seu jardineiro e sua cozinheira. Ele os vê como pessoas calorosas, genuínas e gosta delas. Assim, qualquer um que critique a abertura à imigração e pede a aplicação mais rigorosa da lei não está sendo cristão", disse Krikorian. "Virou uma questão moral para ele."