Título: Voz fraca provoca debate sobre renúncia de papa
Autor: EFE, Reuters e AP
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2005, Vida, p. A7

Mensagem dominical levantou dúvidas sobre a capacidade de João Paulo II se comunicar CIDADE DO VATICANO - A mensagem de João Paulo II da janela do hospital em que está internado, no domingo, evidenciou uma voz rouca e fraca e levantou a discussão sobre a existência de um papa com enorme dificuldade para se comunicar. A perda progressiva dessa capacidade é sintoma do mal de Parkinson, doença que ele enfrenta há 13 anos. "Seria um problema muito sério, já que mudo não poderia celebrar missas, e isso traria à tona o tema da renúncia", disse o cardeal argentino Jorge Mejia, em 2003, quando o papa deu os primeiros sinais de perda da fala. O cardeal Mario Pompedda ressaltou naquele momento que seria uma situação grave só se a "incapacidade de falar estivesse acompanhada da incapacidade de pensar".

Angelo Sodano, cardeal secretário do Estado do Vaticano, disse ontem que só o papa poderá decidir se sua renúncia é melhor ou não para a Igreja. "Deixemos esse tema para a consciência do papa. Se há um homem que está guiado pelo Espírito Santo, se há um homem que ama a Igreja mais que ninguém, se há um homem de uma sabedoria maravilhosa, esse homem é o papa." Ele pediu que todos tenham inteira confiança em João Paulo II.

A renúncia de um papa é um evento raro na Igreja e só pode ocorrer por vontade própria. O último a desistir do papado foi Celestino V, em 1294. Ele era monge e alegou não se sentir preparado para exercer a missão.

O papa deve continuar internado por precaução, anunciou ontem o Vaticano. Segundo seu porta-voz, Joaquim Navarro-Valls, o estado do pontífice, de 84 anos, melhorou. Ele não tem febre, come regularmente e tem se sentado todos os dias por várias horas.

Segundo o Vaticano, ao deixar o hospital, o papa deve reduzir as atividades e delegar funções a seus colaboradores. Ele foi hospitalizado na semana passada.

No domingo, o cardeal Henryk Roman Gulbinowicz admitiu em um programa na TV polonesa ter nascido em 1923 - e não em 1928, conforme o Estado relatou na edição de ontem. Assim, o cardeal, de 81 anos, não teria direito a voto na sucessão do papa. O Vaticano já havia admitido extra-oficialmente a falha, mas ainda não cortou seu nome da lista oficial de 120 eleitores.