Título: Em recuperação
Autor: CELSO MING
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2005, Economia, p. B2
Quando a construção civil melhora, é o investimento e o emprego que saem ganhando. E é o que parece estar acontecendo. Após amargar uma queda de 6% em 2003, o Índice da Produção de Insumos da Construção Civil (ICC) do IBGE deve ter fechado 2004 com uma alta de 5,5%. Esta é uma estimativa da Tendências Consultoria, já que os números finais ainda não são conhecidos.
Para 2005, a expectativa é de um crescimento ainda maior, de 5,9%. O ICC é um bom termômetro. Mostra a variação da produção (e portanto da demanda) dos principais insumos do setor: vergalhões de aço, tintas, cimento, cal, vidro, revestimentos, etc. E, neste momento, aponta para um aquecimento do consumo.
A economista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, observa que não é apenas um fator, mas um conjunto deles que está puxando a recuperação. Há um aumento da demanda por insumos destinados a obras ligadas à infra-estrutura turística (construção ou modernização de 17 aeroportos em todo o País) e ao comércio (construção e ampliação de shopping centers com base nas expectativa de manutenção do cenário favorável às vendas no varejo.)
Uma pesquisa da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), divulgada em setembro do ano passado, mostra que serão investidos R$ 3 bilhões na ampliação de shoppings em apenas dois anos, o equivalente ao total investido nos três anos anteriores.
O setor habitacional não deixou de somar. Até setembro, foram 42,3 mil unidades construídas no País com financiamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), 8,2 mil a mais que em 2003. No caso dos imóveis financiados com recursos da Caderneta de Poupança, foram 54,5 mil unidades em 2004, aumento de 50% em relação a 2003, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Não dá para ver força em números tão pouco significativos. Mas são mais do que nada.
Para 2005, haverá mais recursos. Serão R$ 11,2 bilhões do FGTS destinados à habitação e saneamento, acréscimo de 38,3% em relação a 2004. O aumento deve-se, basicamente, ao expressivo crescimento da arrecadação do FGTS, que, por sua vez, foi motivado pelo aumento do emprego formal. A arrecadação foi de R$ 28,2 bilhões enquanto os saques atingiram R$ 22,1 bilhões, saldo positivo de R$ 6,1 bilhões.
Somem-se a isso os R$ 12,8 bilhões da Caderneta de Poupança destinados aos financiamentos, ante R$ 3,5 bilhões em 2004 - informa o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro (Sinduscon-RJ) e vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Roberto Kauffmann.
Enfim, há indícios de que o setor deixou a apatia. No segmento de tintas, o volume comercializado aumentou 6%, atingindo um total de 702 milhões de litros, ante 662 milhões em 2003. E o faturamento chegou a US$ 900 milhões.
No setor de cimento, as vendas aumentaram 1,5% (em volume), estima o diretor-executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), José Otávio de Carvalho. Foram 34,5 milhões de toneladas.
O consumo-formiga (que é a compra em pequenas quantidades, geralmente destinadas a reformas) corresponde a 40% das vendas. Outros 40% foram demandados pela construção formal (grandes construtoras e volumes acima de 100 sacos de cimento) e os 20% restantes, por obras de infra-estrutura - pontes, viadutos, barragens, etc.
O economista Marcus Valpassos, da Consultoria Galante, que fez um estudo sobre demanda de cimento para o Snic, avalia que o crescimento das vendas foi puxado pelos investimentos da indústria e do comércio. "Esses setores tentaram-se antecipar a um período de crescimento mais duradouro da economia brasileira."
Para 2005, a previsão é de que as vendas de cimento aumentem 4,0%, graças a dois fatores: aumento do consumo miúdo - puxado por algum acréscimo da renda real da população - e maior oferta de crédito para financiamento.
E no setor do aço para construção (vergalhões, telas soldadas e treliças para concreto, por exemplo), a Gerdau, que detém 50% do mercado, deverá ter registrado um acréscimo de 15% no faturamento em relação a 2003, conforme adianta o vice-presidente comercial, Domingos Somma. As vendas foram puxadas pelo consumo para pequenas reformas. Acompanhando o perfil da demanda por cimento, as compras de aço para obras de infra-estrutura ainda são tímidas, situação que Somma entende que irá mudar nos próximos anos, dada a necessidade do País de obras como rodovias, ferrovias e portos.
Mas, mesmo que não haja esse reforço-extra das obras de infra-estrutura, 2005 tem tudo para ser um ano de retomada.