Título: Indústria do brilho vai além da folia
Autor: Ana Paula LacerdaMarina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2005, Economia, p. B6

Fabricantes de lantejoulas e paetês dependem menos do carnaval e lucram o ano inteiro, graças à demanda dos estilistas Mais do que farra, samba e a alegria típicos do carnaval, o feriado nacional também é responsável pelo lucro de muitas empresas, que trabalham boa parte do ano para garantir o brilho dos desfiles. Produtoras de lantejoulas como a Francotex e Lantecor, de São Paulo, trabalham desde agosto para suprir a demanda dos carnavalescos. "No segundo semestre, chegamos a trabalhar em três turnos de produção", conta Joaquim Silveira, diretor comercial da Francotex. Na Lantecor, Daniel Málaga, gerente de vendas, conta que a empresa vendeu cerca de oito toneladas de produto só para o carnaval deste ano. Nos meses de pico, novembro e dezembro, chegou a ter 40 funcionários trabalhando para atender a demanda. "Temos muita concorrência dos importadas, vindos da Ásia, mas conquistamos mercado com alta qualidade e pronta entrega." Silveira tem a mesma opinião: "Existem poucos fabricantes no Brasil justamente por causa da abundância dos importados, mas a qualidade é nosso diferencial." A Francotex, com 450 funcionários, produz cerca de 150 toneladas por ano, entre paetês, lantejoulas, brocal e fitas.

A Lantecor também produz gliter e estrelinhas coloridas. A empresa surgiu há 40 anos com o avô de Málaga, Henrique Garcia, que trouxe da Espanha a técnica de produção. No começo, a matéria-prima não era o PVC, como hoje, mas tampinhas de metal das garrafas de leite. "Hoje continuamos a usar as máquinas que ele mesmo projetou", diz Málaga.

Festas regionais e religiosas durante o ano todo também garantem o sustento das empresas. "No Natal e festas dedicadas aos Orixás vendemos bastante", afirma Silveira. O Maranhão, diz Málaga, é responsável por boas vendas, com a festa do boi-bumbá. "Vendemos para o Brasil todo, de norte a sul."

Málaga conta que, no passado, a empresa só vendia para o carnaval, mas hoje a indústria da moda a mantém funcionando bem o ano todo. Amir Slama, estilista da Rosa Chá, confirma a tendência: "De um tempo para cá, existe muito este enfoque de misturar peças sofisticadas e básicas, como blusas com paetês e calça jeans simples, por exemplo."

Na Francotex, 30% da produção é destinada à indústria da moda. "De uns cinco anos para cá, as grifes começaram a usar bastante paetês para suas criações, e, inclusive, criamos cores especiais para este setor", explica Silveira. Enquanto o verde-bandeira e o dourado ficam para a avenida, os tons pastéis vão para a passarela.

Segundo Slama, é uma tendência mundial. "Acabo de voltar de Paris e vi grandes marcas como Dolce & Gabbana e Prada utilizando o paetê." Henry Alavez, estilista da grife Zoomp, diz que o paetê está em alta na criação de contrastes e texturas. "Além disso, o brilho dá mais glamour às roupas e ter uma peça com paetês é quase essencial no guarda-roupa."

A qualidade é outro detalhe que Slama não deixa passar. Ele verifica todo o material que usa nas coleções, para evitar produtos que estraguem ou manchem a roupa. "O mercado nacional supre bem nossa demanda com produtos de qualidade", atesta.

A empresa de Silveira também diversificou sua linha de produtos para vender o ano todo. Hoje, a empresa faz esponjas para cozinha, acabamentos para cortinas e almofadas (passamanarias) e tecidos para móveis. "Viver só de carnaval é difícil."