Título: PF escolhe líderes que serão protegidos
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Nacional, p. A15

A Polícia Federal deverá proteger líderes rurais ameaçados por grileiros e madeireiros no Pará. Os agentes federais estão definindo quais pessoas envolvidas em movimentos de terra e no combate ao desmatamento precisam ser acompanhadas por serviços de segurança. A relação deverá incluir pelo menos quatro dirigentes ligados à missionária Dorothy Stang, assassinada no dia 12 em Anapu. Dirigentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) entregaram ao delegado Ualame Machado, que investiga o caso Dorothy Stang, uma lista com 35 nomes de líderes que estariam marcados para morrer. Pelas avaliações do delegado, o número pode ser menor.

A atuação da polícia, que ainda depende de recursos para pôr em prática a rede de proteção, deverá se limitar à segurança física dos líderes. Não irá se intrometer em questões políticas e sociais.

SINDICALISTA E PADRE

Na lista entregue pela CPT, aparecem os nomes de Francisco de Assis dos Santos Souza, o Chiquinho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, e o do padre José Amaro, da paróquia da cidade. Outro que está na relação é o técnico agrícola Geraldo Magela de Almeida Filho. Todos eles atuavam com Dorothy no assentamento de famílias.

Magela está sendo investigado pela Polícia Civil por porte ilegal de arma. Testemunhas contaram ter visto o técnico armado em busca dos acusados de matarem a missionária no mesmo dia do assassinato. Ele negou a acusação.

Há duas semanas, o Programa de Proteção a Testemunha do Pará ofereceu apoio ao agricultor Cícero Pinto da Cruz, que presenciou o assassinato, e às lideranças rurais de Anapu. A Secretaria de Direitos Humanos do governo federal também começou a cadastrar nomes de pessoas ameaçadas.

PEDIDO DE PRISÃO

Ontem, a Polícia Civil de Anapu pediu à Justiça a prisão preventiva de três pessoas que teriam matado o posseiro Cláudio Barros, o Mato Grosso, em Anapu, logo depois do assassinato de Dorothy Stang. Os procurados por suposta participação na morte de Mato Grosso são conhecidos por Divino, Leomar e Zé do Chapéu ou Marabá.

A polícia descartou relação entre este crime com a morte da missionária. Os policiais concluíram que Mato Grosso e Divino disputavam havia tempo a posse de uma terra na região.

Ao contrário do que se afirmava anteriormente, Mato Grosso não teria sido executado por colonos que queriam vingar a morte da religiosa.

DENÚNCIA

Vinte e quatro dias depois do crime, um prazo curto na apuração de um assassinato, o Ministério Público do Pará apresenta hoje a denúncia contra dois pistoleiros, um intermediário e o suposto mandante pela morte da missionária norte-americana. O fazendeiro Vitalmiro de Moura, o Bida, ainda foragido, será denunciado como mandante, o capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, como intermediário, enquanto os pistoleiros Rayfran Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Batista, o Eduardo, aparecem como executores.

Dos quatro, Fogoió é o mais implicado, porque saíram de sua arma os tiros desferidos contra a freira. Com maior ou menor grau de culpa, os acusados poderão ser condenados por homicídio qualificado a penas que variam entre 12 e 30 anos de prisão.

O processo, com mais de 600 páginas, será conduzido pelo juiz da comarca de Pacajá, Lucas do Carmo de Jesus.