Título: Berzoini teme embate no Congresso
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Nacional, p. A16

O ministro Ricardo Berzoini (Trabalho e Emprego) revelou ontem sua preocupação com o embate que a reforma sindical provocará no Congresso. Ele defendeu enfaticamente a negociação e convocou seus colegas dos ministérios da Fazenda (Antonio Palocci), da Casa Civil (José Dirceu) e do Desenvolvimento (Luiz Fernando Furlan) para ajudarem a convencer os parlamentares da importância do projeto. "Toda reforma constitucional é trabalhosa, primeiro porque exige quórum qualificado (308 votos), e também porque é um assunto muito polêmico", declarou Berzoini. "A estrutura sindical brasileira tem 60 anos. Quando propomos uma mudança mais forte no sentido de acabar com o imposto sindical e as contribuições obrigatórias, é evidente que forças que hoje vivem desse tipo de estrutura vão se movimentar contrariamente." Berzoini calcula que o projeto do governo conta com 95% de consenso. "Não vamos usar divergências para atrapalhar aquilo que foi construído em consenso", pregou o ministro, durante debate na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. "Vamos trabalhar sobre as divergências para tentar produzir novos acordos ou uma maioria no Congresso que possa votar o melhor texto possível. Estou manifestando minha preocupação com os chamados parlamentares padrões. No Congresso, temos parlamentares de origem empresarial, de origem sindical dos trabalhadores e outros com diferentes origens sociais, mas que por via de seus partidos se aliam mais aqui ou ali. O importante é não ter preconceito e partir para um debate franco com todos os parlamentares. Eu proponho um bom diálogo, uma boa construção, uma boa discussão."

À mesa do debate estavam o presidente do sindicato, José Lopes Feijóo; o coordenador nacional da CUT, Artur Santos, e Paschoal Carneiro, da Corrente Sindical Classista. Arthur lembrou que no Brasil é criado um sindicato a cada 14 horas. Em 2004, foram criados mais de 700 sindicatos. "É preciso acabar com essa farra", proclamou.

O ministro lembrou que em torno da reforma "há interesses de classes", mas ressalvou: "Todos são legítimos." No debate, foi levantada a hipótese de o novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), oferecer resistência ao projeto. Ao responder, Berzoini lembrou de outro projeto, o da biossegurança. "Acabamos de votar a lei da biossegurança. Essa votação é exemplar. O presidente da Câmara tinha uma posição extremamente conservadora em relação à questão da pesquisa com células-tronco. No entanto, como presidente, o máximo que ele pôde fazer foi dar declarações sobre seu ponto de vista, porque por ampla maioria foi aprovado o projeto. Agora, dentro do governo tinha uma contradição a respeito da mesma lei, relativa ao uso ou não de transgênicos em determinadas culturas. A ministra Marina da Silva (Meio Ambiente) tinha uma posição muito clara, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) tinha outra posição e o ministro Miguel Rossetto (Reforma Agrária) outra. O presidente Lula tomou uma decisão, enviou o projeto e foi aprovado. O processo político não é perfeito, nunca foi em lugar nenhum."

Depois do debate, o ministro disse não acreditar em resistência da parte do presidente da Câmara. "O presidente Severino demonstrou sensibilidade para o tema e disse que vai conduzir o processo de votação nas comissões e em plenário de maneira isenta. O Parlamento pode dar uma demonstração de que funciona plenamente. O projeto não é só do governo, é também dos trabalhadores, dos empregadores, das centrais, e o objetivo é equilibrar as desigualdades entre o capital e o trabalho."

Para ele, a "maioria do empresariado" apóia a reforma. Sobre a convocação dos ministros para trabalharem em favor do projeto, ele destacou: "Acredito que tanto o Palocci, quanto o Aldo Rebello (Coordenação Política) e José Dirceu têm total interesse e consciência da importância desse projeto".