Título: FAB estuda substituir seus caças pelo francês Rafale
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Nacional, p. A18

O novo caça de superioridade aérea da aviação militar brasileira pode ser o francês Rafale, o primeiro da nova geração de jatos europeus de combate a incorporar sistemas digitais. O pedido seria feito a partir de 2007, por encomenda direta, com entregas em 2010. Dois oficiais superiores ligados ao Comando da Aeronáutica revelaram ao Estado, depois de ter acompanhado reuniões dos órgãos colegiados da FAB, que o cancelamento da concorrência FX para compra de supersônicos abriu a possibilidade de uma compra, no futuro próximo, envolvendo equipamento de tecnologia mais avançada que a atualmente disponível no mercado.

De acordo com os especialistas, o caça definitivo da aviação militar brasileira "tem grandes chances de vir a ser o francês Rafale". O caça é fabricado pela Dassault Aviation e chegaria ao País por meio da Embraer - da qual o grupo francês é acionista minoritário -, eventualmente com transferência de tecnologia e contemplando um amplo pacote de compensações comerciais.

O Rafale é um dos dois mais modernos aviões de combate da Europa. O outro é o Eurofighter, com capacidades semelhantes, mas que só poderá ser exportado depois de cumpridos os contratos com os países do consórcio financiador do projeto - Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Espanha.

O Rafale voou pela primeira vez em 1986. As primeiras unidades de série só começaram a ser entregues 18 anos mais tarde, em 2004. Os 12 cabeças de série custaram US$ 100 milhões cada.

Já no contrato inicial, referente a aproximadamente 60 aviões, o preço caiu para US$ 70 milhões. A Armée de L'Air e a Aviation Navale (há uma versão embarcada do supercaça) estão encomendando outros 120 caças bimotores.

O governo de Cingapura está negociando 20 unidades por US$ 1 bilhão, indicando a cotação na faixa de US$ 50 milhões a peça. A discussão da operação tem sido feita diretamente pela ministra da Defesa da França, Michele Alliot-Marie.

No Brasil, a expectativa no Comando da Aeronáutica é de que em dois anos o valor médio chegue aos US$ 40 milhões, pouco mais que o custo atual de um Mirage 2000/9.

O supercaça francês voa a 2,4 mil km/hora, leva 6 toneladas de carga de ataque (mísseis de cruzeiro, de ataque a radares e de alcance além do horizonte; bombas inteligentes e um canhão de 30 milímetros). Pode ser reabastecido em vôo e usa um radar holográfico tridimensional de alta resolução com cobertura de 100 quilômetros.

TRANSIÇÃO

O Alto Comando decide até o fim do mês a escolha do caça, usado, que será alugado ou comprado de um fornecedor internacional para substituir os F-103 MirageIIIE/Br, usados há 32 anos pela Força Aérea Brasileira (FAB).

A revelação foi feita ao Estado pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luis Carlos Bueno. Para ele, "não convém esperar mais". Os F-103 não têm como ser mantidos. Segundo Bueno, "foi feito um mix de utilização dos motores de tal forma que todos eles chegarão ao fim da vida útil ao mesmo tempo, no fim do ano".

De acordo com o brigadeiro, há cinco ofertas de venda ou leasing, um tipo de arrendamento, em consideração. Todas especificam radares de alta performance e mísseis BVR (de alcance além do horizonte, na faixa dos 40 a 50 km). O Grupo Saab, da Suécia, oferece o aluguel de 12 unidades de seus modernos supersônicos JAS 39 Gripen, novos em folha e acompanhados de sistemas de armas eletrônicos de última geração.

O governo da África do Sul propõe um regime novo no mercado: a locação operacional de um lote de aeronaves Cheetah, versão revitalizada do mesmo MirageIIIE que a FAB vai desativar dia 31 de dezembro. Na prática, significa que os jatos viriam para o Brasil acompanhados de suporte técnico - peças, componentes e pessoal técnico, mecânicos inclusive.

As propostas mais conservadoras são as de fornecedores da França, por meio de um pacote de aviões Mirage 2000 produzidos na segunda metade dos anos 80, e dos Estados Unidos, que receberam autorização da Casa Branca para proceder à modernização de caças F-16 Falcon das séries A/B, também na faixa dos 20 anos de uso, pelos quais o governo brasileiro venha a optar.

A minuta da apresentação americana prevê transferência da tecnologia dos sistemas especificados, mas isso apenas no caso de aquisição permanente. Os técnicos militares brasileiros analisam também o KFir C10, de Israel, outra configuração do MirageIIIE.