Título: Brasil pode agir como mediador
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Internacional, p. A20
O Brasil poderá vir a intermediar um pacto entre a oposição e o governo de Carlos Mesa, se o Congresso da Bolívia rejeitar o pedido de renúncia do presidente. Trata-se da hipótese considerada mais provável, no Itamaraty, por observadores do quadro político boliviano. A Venezuela, que mantém contato privilegiado com a oposição boliviana, também poderá ser convidada para essa missão, cujo objetivo será garantir a ordem democrática e o fim de manifestações que paralisam a economia e põem em risco o abastecimento na Bolívia. Entretanto, fontes do Itamaraty deixaram claro que a intromissão da comunidade internacional ou de qualquer país, isoladamente, na crise política boliviana traria mais prejuízos que colaboração para uma solução "pacífica". A Embaixada do Brasil em La Paz, afirmaram, conduz seus trabalhos com extrema cautela, ciente de que qualquer passo em falso transformaria o Brasil em vidraça para setores mais radicais da esquerda.
O governo brasileiro acompanhou ontem com preocupação a crise e o cenário de elevado risco de desestabilização política no país vizinho. A Bolívia é considerada pelo Palácio do Planalto parceiro prioritário em sua estratégia para a América do Sul.
O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, informou que ficou sabendo da crise à 1 hora de ontem. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado pela manhã.
Garcia ressaltou que o governo aguarda a decisão final do Congresso boliviano hoje e deverá se pronunciar oficialmente apenas junto a seus sócios do Mercosul e da Comunidade Sul-americana de Nações. E acrescentou que tudo tem de ser feito com respeito à autodeterminação e à soberania bolivianas. Mas deu um claro sinal de que o Brasil não pretende ver deteriorar-se o quadro político no país vizinho. "O problema deve ser resolvido nos quadros institucionais, ainda que haja pressões das ruas", afirmou, destacando que o governo brasileiro considera primordial evitar a desestabilização do país vizinho.
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Richard Boucher, disse que os EUA esperam que a crise seja resolvida de forma democrática.