Título: Cresce total de doutoras e mestras
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Vida &, p. A24

O número de professoras com mestrado ou doutorado cresceu no País de 1996 a 2003 bem mais do que o de professores, segundo pesquisa feita pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. No período, o total de professoras com doutorado subiu 104%, marca bem superior à registrada entre os homens: 69,2%. O crescimento de professoras com mestrado também foi superior: 119,4% ante 106,1%. A pesquisa revela o aumento da participação das mulheres em todos os níveis de ensino. Na educação infantil, o crescimento foi de 48,1%. No ensino fundamental, 2,25%. No ensino médio, o fenômeno se acentua: as mulheres representam 54% das matrículas. Na graduação, a presença feminina cresce tanto como alunas quanto como professoras. No entanto, há ainda muito o que ser feito, afirma a ministra Nilcéa Freire. "As queixas apresentadas por mulheres doutorandas são muito parecidas com as que são feitas por mulheres com reduzido nível de ensino. Os constrangimentos são os mesmos", completou.

O trabalho analisou dados desde a educação infantil até a pós-graduação. O avanço mais significativo foi constatado justamente a partir da graduação. A comparação entre grupos masculino e feminino mostra que, em 1996, havia uma diferença em favor das mulheres no número de matrículas equivalente a 8,7%. Essa diferença, em 2003, passou para 12,8%. O número de professoras lecionando na educação superior também cresceu bastante: 102% entre 1996 e 2003, enquanto homens, no igual período, registraram um aumento médio de 67,9%.

Mesmo com taxas de crescimento de mulheres docentes com mestrado e doutorado superiores, o número de homens em tais atividades ainda é maior. Em 2003, havia 51.247 professores com mestrado, ante 45.263 professoras com o mesmo nível de ensino - Entre docentes com doutorado a diferença é maior: 34.807 homens e 21.431 mulheres, em 2003.

"Educação é um indicador de desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, é o que mais denuncia a discriminação", afirmou Nilcéa. Ela observa que, embora o nível de conhecimento das mulheres tenha aumentado de forma significativa, há ainda uma grande diferença entre os salários de homens e mulheres. "Até algum tempo, atribuía-se esta diferença à desigualdade de formação. Esta justificativa não se sustenta mais."

A pesquisa deixa clara a desigualdade. Em 2003, o salário médio de uma profissional com 11 anos ou mais de estudo era de R$ 695,00. Um homem com o mesmo nível de escolaridade recebia R$ 1.362,00. O fenômeno se repete entre pessoas sem instrução. Em 2003, mulheres recebiam uma média de R$ 173,00. Homens, por sua vez, R$ 265,00.

A desigualdade também é patente quando se analisa a ocupação dos profissionais. Mulheres com nível superior de ensino dedicam-se mais às áreas de humanas e de saúde. "Acreditamos haver uma pedagogia oculta de gênero", afirma Tatau Godinho, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Tal comportamento de professores exerceria uma influência sobre o desempenho de alunos e alunas, ao longo da vida acadêmica. Como exemplo, ela cita a pontuação de meninas em Matemática, na 4.ª série: 3 pontos abaixo do resultado apresentado por meninos. Ao fim da 8.ª série, essa diferença praticamente dobra: 7,2 pontos, a favor dos meninos. Tanto na 4.ª série quanto na 8.ª, meninas apresentam melhor desempenho em Língua Portuguesa. Mas a diferença mantém-se em 12 pontos, nos dois anos de ensino analisados.

O trabalho divulgado ontem mostra que o aumento mais expressivo de mulheres se dá a partir do ensino médio. Até chegar a esse nível, o número de meninos matriculados é maior do que o de meninas. "Entre 1996 e 2003, registramos um aumento geral das matrículas da educação infantil", afirmou a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, Iara Xavier. Mas entre meninos, o índice foi superior: 52,5%, ante 48,1% de meninas. Pesquisadores não sabem ainda as razões dessa diferença."Mas o fato é que essa diferença cai significativamente ao longo da vida acadêmica", afirmou Iara.