Título: Real não será afetado, diz Barros
Autor: Silvana Rocha e Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Economia, p. B1
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário executivo da Camex, as resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) para o mercado de câmbio são muito positivas para os exportadores, mas não devem ter reflexos significativos na cotação do real. As medidas são positivas porque "reduzem a burocracia, mantendo um sistema de liberdade para uma economia relativamente aberta", avaliou ontem o diretor-presidente da MB Associados. "Mas não acredito que a medida vá ter grandes impactos na cotação da moeda. As medidas realmente se restringem ao campo burocrático." Mendonça de Barros acredita que o câmbio em torno de R$ 2,65 por dólar não comprometerá significativamente o desempenho da balança comercial agrícola ao longo deste ano. "Apesar do problema da soja, com quebra de 10 milhões de toneladas na safra, outros setores estão indo muito bem, casos do café, açúcar, suínos e pecuária."
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Investimentos, também comemorou as mudanças na área cambial. Para ele, as medidas vieram em "ótima hora" e não devem se encerrar nas mudanças anunciadas na sexta-feira. "Faz bastante tempo que uma mudança mais robusta no mercado de câmbio era esperada, por um simples motivo: desde o câmbio flutuante, muito pouco da legislação foi mudado nessa área", diz Figueiredo. "Houve adaptações e alguma flexibilidade foi dada, mas muito mais em termos de automatização e eficiência dos sistemas do que na legislação", acrescenta.
Segundo ele, será da maior importância conhecer as circulares que vão detalhar as mudanças anunciadas pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Alexandre Schwartsman. "Nem dá para falar muito no assunto sem conhecer essas circulares, mas essa simplificação das normas era claramente necessária. Não fazia o menor sentido, por exemplo, termos dois câmbios."
Na opinião de Figueiredo, diversas outras medidas para dar uma maior flexibilidade na conta de capitais poderiam ser adotadas. Além de questões administrativas, como, por exemplo, os limites atuais de posição comprada dos bancos em moeda estrangeira.
As mudanças poderão ser mais difíceis para o governo, acredita ele, quando envolverem mudanças na legislação e, por isso, a tramitação no Congresso. Tanto a atual fragilidade política do governo quanto o aparente desconhecimento dos parlamentares em torno do assunto tornam avanços nesta área naturalmente mais complexos.