Título: Medidas cambiais agradam e risco cai
Autor: Silvana Rocha e Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Economia, p. B1
O mercado teve ontem uma reação positiva às medidas cambiais anunciadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na sexta-feira. O risco Brasil caiu para 375 pontos, o menor nível desde 23 de outubro de 1997. As ações de empresas exportadoras deverão se beneficiar da alta do dólar. O Ibovespa fechou em alta de 0,88%. Os papéis mais negociados da dívida externa brasileira (C-Bonds) subiram 0,062%, e foram negociados a 102,25% do valor de face. O dólar fechou ontem em alta de 0,87%, cotado em R$ 2,679, o maior nível desde 25 de janeiro. Mas, segundo operadores do mercado, a alta da moeda americana se deve mais a ajustes de posições dos bancos do que ao impacto das medidas cambiais. Na sexta-feira, o CMN anunciou a unificação do câmbio flutuante e comercial, o aumento do prazo para internalização de recursos dos exportadores, que passa a ser de 210 dias, e medidas que facilitam a remessa de recursos para o exterior.
"As medidas do CMN afetam os exportadores, porque reduzem a burocracia, mas não devem ter muito impacto sobre o câmbio", diz Luís Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios. "A moeda americana subiu por causa da ação dos operadores, que estão apostando na determinação do Banco Central de impedir a queda do dólar." As cotações do dólar ganharam fôlego ontem após o leilão de compra do Banco Central à tarde. Muitos operadores apostam em um piso de R$ 2,65 para o dólar.
As empresas importadoras e exportadoras aguardam as circulares do BC para avaliar detalhes operacionais das medidas, por isso teriam reduzido o ritmo de negócios com câmbio. As novas medidas entram em vigor no próximo dia 14. As circulares que regulamentarão as decisões sobre o mercado de câmbio serão divulgadas até o fim desta semana. Operadores esperam anúncio de mais mudanças nas normas cambiais a médio prazo.
EXPORTADORES
Apesar de não ter elevado muito o dólar, uma conseqüência que era esperada por alguns empresários, a norma cambial agradou aos exportadores. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, elogiou a unificação do câmbio livre com o flutuante, que, na sua avaliação, reduzirá custos e tornará mais simples as vendas de produtos para o exterior.
"Além disso, foi boa a ampliação do prazo de fechamento do câmbio para 210 dias, pois dá liberdade ao empresário para escolher um momento melhor para realizar a operação", comentou. "Companhias que tinham intenção de demitir funcionários por causa de dificuldades trazidas pela cotação desfavorável do real ante o dólar vão reavaliar seus planos, pois ganharam mais fôlego financeiro."
Para Castro, o câmbio vai apresentar volatilidade, pois muitos empresários vão levar algum tempo para assimilar as mudanças nas normas cambiais.