Título: Para BC, Argentina não afeta o Brasil
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Economia, p. B3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que a reestruturação da dívida argentina não deverá ter impacto negativo sobre os preços dos títulos da dívida externa brasileira. O jornal Financial Times alertou ontem, em editorial, que o resultado do swap da dívida argentina causou grandes perdas aos investidores e deverá elevar as taxas de risco dos ativos dos países emergentes. Essa tese do diário britânico reflete o temor de vários analistas do mercado internacional. "É a opinião do jornal, vamos aguardar e ver", disse Meirelles. "Estamos tranqüilos, não vimos ainda nenhum sinal de qualquer mudança em patamar de preço (dos títulos brasileiros) em função da reestruturação argentina." Segundo Meirelles, o temor de parte dos investidores de que outros países emergentes, inclusive o Brasil, possam seguir o exemplo argentino, não é justificado. "É natural que mercados pensem o que quiserem, mas eles também sabem que cada país tem situações econômicas diferentes." O presidente do BC salientou que os fundamentos da economia brasileira melhoraram muito nos últimos anos. "Toda situação da economia brasileira é extremamente positiva e muito diferente daquela em que estava a Argentina quando teve que declarar a moratória", disse ele.

SENTIMENTO NEGATIVO

Meirelles e os demais diretores de bancos centrais que participaram da reunião bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) evitaram comentar a troca da dívida argentina. Durante a reunião, encerrada ontem, o presidente do BC argentino, Martín Redrado, fez um relato aos colegas sobre o swap, mas o tema não foi debatido oficialmente.

Nos bastidores, no entanto, alguns dos diretores dos BCs revelaram que o desfecho da operação argentina não está sendo visto com bons olhos. "Não há um sentimento positivo em relação a isso, ninguém aprova o que está sendo feito", disse um dos participantes. "Traz um custo enorme aos credores e, no longo prazo, ao próprio governo argentino."

FLUXOS PARA EMERGENTES

Ao fazer uma avaliação das principais conclusões do encontro no BIS, Meirelles disse que a expectativa é que os fluxos de capitais para mercados emergentes continuem estáveis nos próximos meses. Os presidentes de BCs acreditam que a economia mundial terá crescimento em 2005 um pouco inferior ao do ano passado, mas ainda "robusto". Segundo Meirelles, a liquidez nos mercados internacionais continua bastante elevada. "Existe ainda uma perspectiva de que a aversão ao risco vai continuar baixa, o que significa que o fluxo de recursos para mercados emergentes deve continuar estável nos patamares atuais."

JUROS

Meirelles reafirmou que, com a gradual melhora dos fundamentos da economia brasileira, a perspectiva é de que os juros no País caiam no longo prazo, que não quis especificar. "Em nenhum momento eu falei sobre queda de juros neste ano ou em qualquer outro momento, seja daqui a um mês, um ano, cinco anos ou dez anos", disse Meirelles.