Título: Pouca chuva reduz previsão de safra
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Economia, p. B6
A falta de chuvas em vários Estados, principalmente no Rio Grande do Sul, deve frustrar a expectativa do governo de uma megassafra em 2004/05. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou ontem que a produção de grãos no ano-safra 2004/05 será de 123,407 milhões de toneladas. É uma queda de 8,514 milhões de toneladas em comparação à estimativa que havia sido feita em dezembro, de 131,921 milhões de toneladas. Se a projeção atual se mantiver, a produção ficará pouco acima do volume recorde de 123,168 milhões de toneladas, verificado em 2002/2003. Apesar do corte na previsão da nova safra, ela ainda será 3,6% maior do que a safra 2003/2004, quando a produção de grãos foi de 119,152 milhões de toneladas. A previsão divulgada ontem foi feita com base em levantamento de campo realizado entre 14 e 18 de fevereiro.
Desde então, o clima seco continua castigando as regiões produtoras, mas o diretor de Desenvolvimento da Conab, Silvio Porto, descartou mudanças significativas para as culturas de soja e arroz. Os números para esses produtos estão consolidados, argumentou.
Porto admitiu, no entanto, que poderá haver novas reduções na previsão de colheita para o milho. A produção total de milho foi estimada ontem em 39,039 milhões de toneladas, queda de 7,5% na comparação com as 42,191 milhões de toneladas da safra 2003/04. Em dezembro, os técnicos da Conab calcularam produção de 43,147 milhões de toneladas de milho na safra 2004/05.
Na soja, a estimativa atual indica colheita de 57,028 milhões de toneladas, 14,6% acima das 49,770 milhões de toneladas da safra passada. Mas em relação ao número de dezembro, houve redução na estimativa. A Conab havia estimado colheita de 61,408 milhões de toneladas de soja.
Não há números oficiais, mas as indicações são que 20% da produção de soja do País é geneticamente modificada, comentou Porto. "No Rio Grande do Sul, no mínimo 90% da soja é transgênica", acrescentou.
A quebra de safra não deve ter impacto nos índices de inflação, avaliou o presidente da Conab, Jacinto Ferreira. "Qualquer risco de desabastecimento está descartado. Os estoques de passagem de uma safra para outra são suficientes para atender à demanda", afirmou. Ele também enfatizou que o governo está atento à situação dos produtores e lembrou que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, anunciou na semana passada medidas de apoio ao setor. O governo também avalia medidas para apoiar os produtores que tiveram quebra de safra.
METODOLOGIA
Os dados divulgados ontem pela Conab seguem uma metodologia diferente da do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a Conab leva em conta o ano-safra, que começa em setembro e vai até agosto do outro ano, o IBGE leva em conta o calendário gregoriano. Por isso, há diferenças nas estimativas. Em fevereiro, o IBGE divulgou a primeira projeção para a safra 2005 de grãos e indicou produção de 134,5 milhões de toneladas em 2005. A projeção é referente ao levantamento de janeiro e indicou queda de 0,3% em relação ao número de dezembro (de 134,9 milhões de toneladas). De acordo com técnicos do IBGE, as perdas por conta das adversidades climáticas serão mensuradas nas próximas estimativas.