Título: Sai o prêmio à mulher empresária
Autor: Ana Paula Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Economia, p. B18

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher e o crescimento constante da participação feminina em atividades empreendedoras, o Sebrae nacional fez a entrega ontem, em Brasília, do Prêmio Mulher Empreendedora. Cinco mulheres, cada uma de uma região brasileira, foram premiadas com uma viagem, em junho, para participar do 25.º Congresso Internacional da BPW (Business Profissional Woman), em Lucerna, na Suíça. "O prêmio foi criado para incentivar o trabalho e dedicação das mulheres", diz Rita Vucinic Teles, coordenadora do prêmio na Região Sudeste. "Afinal, a participação delas cresceu de maneira impressionante." Em 2000, as mulheres eram responsáveis por 29% de todos os negócios brasileiros. Após três anos, as empreendedoras já eram 46%, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada no Brasil pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Paraná (IBQP). "Esse prêmio é um estímulo, e contar nossas histórias pode também servir de estímulo a outras mulheres," diz Gislene Mesiara, uma das finalistas da Região Sudeste (ver texto abaixo)

Muitas mulheres, porém, ainda começam a empreender por necessidade, e não por oportunidade. Segundo a pesquisa GEM, esse problema afeta 42% delas, enquanto entre os homens são 35% os que abrem negócios porque precisam sobreviver.

A vencedora do prêmio na Região Sul, Joice Nervis Roncaglio, começou a trabalhar com pães por estar passando por um momento difícil. Tinha fechado sua empresa de costura, que falira, e seu marido havia deixado o emprego. "No início, vendia os pães que preparava na vizinhança e em colégios, depois comecei a trabalhar como voluntária numa padaria em Foz do Iguaçu, onde aprendi mais. Depois, com o dinheiro que juntei, acabei comprando a a padaria e começando de novo," conta a empresária. Para não cometer os erros do outro negócio, fez vários cursos e sempre buscou informação para satisfazer o cliente. "Aqui na região tem gente de todas as culturas, então apareciam os pedidos mais estranhos. Sempre busquei aprender todas as receitas para atendê-los," lembra. E uma vez um cliente ligou perguntando se ela tinha aparatos para um jantar. "Disse que tinha, claro, mas fiquei com a palavra na cabeça. Fui olhar num dicionário e também liguei para um concorrente, que me disse que tinha garfos, colheres, bandejas," lembra Joice, rindo.

"As mulheres, em geral, têm maneiras mais delicadas de lidar com os negócios, mas elas e eles são igualmente empreendedores," diz Paulo Veras, diretor do Instituto Empreender Endeavour. "A presença delas em grandes negócios ainda é pequena, mas com o tempo isso deve mudar, devido até à maior participação delas nos novos negócios." Ele acha, porém, que elas ainda são um pouco discriminadas: "O machismo ainda existe. Mas, diferentemente de dez anos atrás, já não inviabiliza os negócios."

Foi mais ou menos nessa época que Jandira Gorete Vieira - vencedora do prêmio na Região Centro-Oeste - criou a Gorethy Moda Íntima. "Tinha feito supletivo, magistério e entrei na Faculdade de Letras, mas meu sonho era ter um negócio. Revendia lingeries para me manter na faculdade, então resolvi trabalhar no ramo." Em 1997, ela comprou 2 máquinas, chamou uma amiga e hoje comanda 30 pessoas, 1 fábrica e 2 lojas. A empresa produz 20 mil peças por mês. "Me revolto quando ouço que mulher tem de lavar e passar. Somos diferentes dos homens, mas as diferenças não passam pela capacidade de criar oportunidades para nós mesmas e para a comunidade."

As outras vencedoras são Maria Almeida, da Viva Verde (Região Norte), Izolda Viriato, da cooperativa de rãs Coopercrãmma (Sudeste) e Karla Rocha, da Cooperativa de Floricultores Cofep (Nordeste).