Título: Um enclave de trabalho coletivo no interior gaúcho
Autor: Elder OgliariJander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Nacional, p. A4

O Assentamento Lagoa do Junco, que o presidente Hugo Chávez visitou ontem, é uma espécie de ideal perseguido pelo MST. Ali funciona a Cooperativa de Produção Agropecuária de Tapes Ltda., cuja característica principal é o trabalho coletivo da terra. Seus participantes juntaram os lotes que receberam quando o assentamento foi implantado em 1998, no governo de Fernando Henrique, e decidiram trabalhar juntos. Eles plantam arroz. No momento desenvolvem um projeto agroecológico, que dispensa o uso de adubos químicos. Em vez de uréia usam urina de vaca, misturada com água. Para oxigenar a água e revolver a areia dos charcos onde semeiam arroz, usam peixes. Na última colheita, obtiveram 23 mil sacas de 50 quilos numa área de 793 hectares, segundo relato de Alcinda Ribeiro, uma das dirigentes da cooperativa.

Ela explicou que o principal objetivo do grupo é agregar valor aos seus produtos. Neste ano começaram a descascar e ensacar o arroz na cooperativa. "Antes vendíamos o saco de 50 quilos de arroz orgânico por R$ 22. Com as providências que tomamos, neste anos recebemos R$ 1,56 por quilo vendido à Conab." A direção nacional do MST, que não esconde uma sólida simpatia pelo socialismo, tem perseguido o trabalho coletivo nas áreas de assentamentos desde que surgiu. Mas os revezes têm sido contínuos. Os assentados acabam preferindo o trabalho com suas famílias. Em Tapes, das 35 famílias, só 20 aceitaram se integrar à cooperativa. Mais tarde, 5 abandonaram o projeto. As 15 que ficaram enfrentam dificuldades.