Título: Chávez diz que está armando o povo e avisa: 'Não se metam com a Venezuela'
Autor: Elder OgliariJander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Nacional, p. A4

Grande estrela do final do Fórum Social, em Porto Alegre, presidente venezuelano explicou, sob aplausos, seu projeto bolivariano PORTO ALEGRE - Depois de uma visita a um assentamento importante do Movimento dos Sem-Terra, acompanhado do governador paranaense Roberto Requião e do líder do MST, João Stédile, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez - a grande estrela do último dia do Fórum Social Mundial -, deu a entender ontem em entrevista que está armando tanto os militares quanto os civis na Venezuela. Depois de bradar pela necessidade de o Exército ficar ao lado do povo e não contra o povo, avisou que "a Venezuela não vai se meter com ninguém, mas que ninguém se meta com a Venezuela". Também destacou que "a estratégia é fortalecer o aparato militar para defender nossa terra e o projeto bolivariano (referência à Aliança Bolivariana das Américas - Alba) como alternativa ao projeto de integração defendido pelos Estados Unidos e incrementar a participação popular na defesa do país".

Chávez foi aplaudido, como ocorreu várias vezes durante uma entrevista em que boa parte dos 150 jornalistas credenciados de todo o mundo não escondia a admiração pelo presidente venezuelano e em que nenhum dos maiores jornais brasileiros foi sorteado para fazer perguntas.

DESCULPAS

O presidente venezuelano disse compreender o comunicado que o governo da Colômbia divulgou na noite de sexta-feira para anunciar o fim da crise entre os dois países como o pedido de desculpas que esperava de Bogotá.

"A Colômbia usou linguagem diplomática para dizer isso, mas entendemos como retratação porque prometeram que atos iguais não vão se repetir", explicou, referindo-se ao seqüestro, em Caracas, do guerrilheiro Rodrigo Granda, vinculado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Chávez ressalvou, no entanto, que não considera a página do incidente virada enquanto não falar pessoalmente com o presidente colombiano Álvaro Uribe, com quem tem uma reunião agendada para quinta-feira, em Caracas. O presidente venezuelano considerou o seqüestro de Granda uma provocação dos Estados Unidos, que estariam interessados numa crise entre os dois países sul-americanos para justificar uma intervenção na Venezuela. Também disse que a intermediação para a resolução do impasse foi feita pelo presidente de Cuba, Fidel Castro, "de boa fé", a pedido de Uribe. "De toda essa conversa, o único governo que saiu apoiando a violação (que teria sido cometida pela Colômbia) foi o de Washington, que ficou falando sozinho", acusou Chávez, aproveitando para elogiar a postura dos demais países do continente, como Brasil, por participarem das negociações.

"Nós temos capacidade para resolver nossos problemas entre nós", advertiu. "E só temos a alternativa de nos unir." Segundo Chávez, a Venezuela já está buscando a unidade latino-americana que prega ao fazer acordos para atividades sociais antes mesmo dos comerciais com seus vizinhos. Citou a ajuda que os cubanos dão a projetos de educação, saúde e habitação na Venezuela e a remessa de petróleo para o país de Fidel Castro, com descontos de 25% nos preços, pagamento em 15 anos e possibilidade de negociação caso Havana não tenha capacidade de pagar no prazo estabelecido, porque, segundo o presidente, "a Venezuela não é o FMI".