Título: Água deverá faltar para 3 bilhões
Autor: Lisandra Paraguassú Sandra Hahn
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Nacional, p. A6

Escassez de água potável no futuro, um dos temas mais debatidos no fórum, foi discutida em tom pessimista PORTO ALEGRE - Para muitos especialistas, uma coisa é certa: a água está destinada a ser um dos grandes problemas do século 21. Se houver guerras, dizem eles, boa parte delas será pela posse de áreas onde exista água potável. O tema - que dominou muitos debates no Fórum Social Mundial do ano passado, na Índia - rendeu, em Porto Alegre, vários painéis, e uma das conclusões dos debates foi a de que, em 20 anos, o número de pessoas que vivem sem acesso à água potável pode dobrar. Em números globais, passará de 1,5 bilhão para 3 bilhões o total de pessoas precariamente servidas. Atualmente, 30 mil pessoas morrem por ano de doenças causadas por água insalubre. Engajada no tema, do qual faz um de seus maiores projetos, a organização não-governamental WWF-Brasil realizou um vôo, como um balão, sobre o Rio Guaíba, às margens do qual acontecem os encontros. O objetivo foi divulgar a campanha "Água para vida, água para todos". Iniciada em 2003, a campanha da ONG vai durar quatro anos, com foco na proteção dos mananciais, combate ao desperdício e o acesso à água. Durante este período, serão desenvolvidas atividades regionais e temáticas. No Brasil, 45 milhões de pessoas não têm acesso à água por sistemas tradicionais de abastecimento, lembra o coordenador da campanha, Sérgio Ribeiro.

DEBATES

Entre 162 atividades que englobam o eixo temático bens da terra, 32 debates foram sobre a disponibilidade de água potável no mundo. Na sexta-feira, outra ONG, a SOS Mata Atlântica, fez uma demonstração prática da situação das fontes de água bem próximas ao Território Social Mundial, onde acontece o fórum.

Depois de sobrevoar ontem o Guaíba, os ecologistas mostraram o assoreamento das áreas, especialmente nas diversas ilhas do delta do Jacuí. Esse assoreamento seria causado pela poluição e mau uso da água coletada. Eles também colheram amostras da água e mediram a sua qualidade, que foi considerada entre regular e ruim. "Há ausência de mata ciliar", comenta Ribeiro. Sem a proteção vegetal, ocorre acúmulo de sedimentos - de origem diversa, desde lixo a areia - no leito, o que aumenta a temperatura da água. A análise química indicou nível elevado de fosfato, que vem de substâncias orgânicas. "A campanha propõe que as pessoas repensem o uso da água."