Título: Açúcar no sangue amplia riscos de enfarte
Autor: Chico SiqueiraEspecial para o Estado
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Vida, p. A8

Pessoas com altas taxas de glicose, mesmo não sendo diabéticas, também não se recuperam bem de ataques cardíacos, segundo estudo brasileiro premiado nos EUA SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - Pessoas com altas taxas de açúcar no sangue - chamadas de hiperglicêmicas - devem controlar os níveis de glicose com mais rigor do que se imaginava, mesmo não sendo portadoras de diabete. O risco é sério. Elas são mais propensas a sofrer um enfarte e, nesses casos, têm maior possibilidade de morte do que aquelas com taxas normais, porque não conseguem responder com satisfação aos tratamentos usados para reabertura das artérias coronarianas. Num futuro próximo, os hiperglicêmicos podem até serem submetidos a tratamento com insulina. A constatação é dos médicos Lilia Maia Nigro, do Hospital de Base, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e José Carlos Nicolau, do Instituto do Coração, da Universidade de São Paulo (USP), que no ano passado apresentaram a pesquisa no conceituado Congresso Anual da Associação Americana do Coração, na Flórida, Estados Unidos. O trabalho dos brasileiros ficou entre os cinco finalistas do evento, entre 1.740 selecionados.

Durante três anos, eles pesquisaram 64 pacientes hiperglicêmicos - diabéticos ou não - que sofreram enfarte do miocárdio e chegaram à conclusão de que somente um acompanhamento cuidadoso das taxas de glicose no sangue pode evitar riscos maiores à vida dessas pessoas.

SEQÜELAS

Os pesquisadores constataram que os pacientes com níveis de glicose entre 100 e 130 miligramas por decilitro (mg/dL) não conseguiram responder, como os pacientes normais, aos tratamentos com fibronolíticos, um tipo de medicamento utilizado para reabrir artérias, aplicado nas horas seguintes ao enfarte. "As artérias não reabriram como deveriam reabrir ou como reabriram nos pacientes sem altas taxas de açúcar no sangue", afirma Lilia.

Os pacientes pesquisados foram divididos de acordo com os níveis de glicemia e passaram por exames de ventriculografia radioisotópica (medicina nuclear) para avaliação de como ficou a função do coração durante o período do enfarte.

Segundo ela, a evolução dos hiperglicêmicos foi pior em comparação com os outros pacientes com níveis normais de glicose. E as seqüelas deixadas pelo enfarte também foram mais severas neles.

Os níveis de 100 a 130 mg/dL, que antes eram considerados normais, passaram ser tidos como perigosos depois da descoberta recente de que diabéticos são mais inerentes ao enfarte. Isso quer dizer, de acordo com Lilia, que uma pessoa não precisa sentir os sintomas da diabete para estar em perigo.

"Por isso, há a recomendação de que o controle tem de ser severo, porque as chances de um paciente hiperglicêmico se recuperar de um enfarte são bem menores do que de outros pacientes com taxas normais", afirma a médica.

A Associação Americana de Diabetes considerada como resultado normal a taxa de glicose até 99 mg/dl, na dosagem feita em jejum.

Por conta dessa constatação dos brasileiros, um grupo de pesquisadores de 500 centros médicos de mais de 50 países estudam a possibilidade de pacientes com a taxa entre 100 e 130 mg/dL serem submetidos a tratamento com insulina, como forma de diminuírem os riscos.