Título: Eleitor vota e desafia violência, que deixa 44 mortos no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Internacional, p. A11

Autoridades iraquianas estimam em 60% o índice de comparecimento, que varia conforme a região BAGDÁ - Os iraquianos desafiaram ontem as ameaças de violência e represálias dos grupos rebeldes e compareceram em expressivo número nas primeiras eleições livres em meio século no Iraque. Os rebeldes, que prometeram uma feroz luta contra as eleições, lançaram vários atentados e ataques com morteiros, deixando pelo menos 44 mortos, entre eles 10 suicidas. A Organização Al-Qaeda para Guerra Santa no Iraque, do jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, anunciou em um website islâmico que 13 de seus suicidas haviam participado dos ataques.

Apesar da violência, a Comissão Eleitoral informou, citando estimativas, que pouco menos de 60% dos 14 milhões de eleitores registrados foram às urnas para escolher os 275 membros de uma Assembléia Nacional provisória. Horas antes, a comissão havia dito que o índice de participação era de 72%, mas depois se corrigiu e esclareceu que esse número era apenas uma suposição.

Estima-se que mais de 90% dos eleitores foram às urnas em Bagdá, onde, apesar de alguns atentados, a votação transcorreu em relativa calma por causa do enorme aparato de segurança que literalmente paralisou a cidade. A cada 700 metros havia um bloqueio dos soldados americanos e iraquianos, dificultando ao máximo a ação de insurgentes.

Como esperado, um alto comparecimento foi registrado nas áreas curdas, no norte do Iraque, e xiitas, sul. Atendendo a um pedido de seus líderes que retiraram sua candidatura, porém, os eleitores da província sunita de Al-Anbar, oeste, boicotaram as eleições e em geral se abstiveram em ir às urnas em outras áreas sunitas.

O líder político sunita Adnan Pachachi disse que a participação dos sunitas em Bagdá foi superior à esperada. Uma baixa participação dos sunitas, que representam 20% da população, poderia prejudicar o novo governo e aprofundar as tensões entre os grupos étnicos e religiosos do país.

Os xiitas, que representam 60% dos 26 milhões de iraquianos e são apontados como os prováveis vencedores das eleições, foram em massa às urnas em Najaf. Estima-se que entre 75% e 80% dos 500 mil eleitores da província votaram. Os resultados devem ser anunciados em dez dias.

O organismo que coordena cerca de 10 mil observadores iraquianos independentes assegurou ontem, pouco antes do fechamento dos colégios eleitorais, às 17 horas locais, que foram registrados "pouquíssimos casos de fraude".

Cerca de 66% dos 280 mil iraquianos que se registraram para votar em 14 países foram às urnas, informou a Organização Internacional de Imigrações.

Os ataques rebeldes começaram duas horas depois do início da votação e atingiram principalmente a capital. Em um dos atentados mais mortíferos, um suicida detonou uma bomba dentro de um ônibus que transportava eleitores a um centro eleitoral em Hilla, ao sul de Bagdá. Cinco pessoas morreram, entre elas o suicida, e 14 ficaram feridas. Um suicida matou quatro eleitores em um centro de votação em Sadr City, Bagdá, e outro matou mais quatro pessoas e feriu nove no oeste da capital.

Em um centro eleitoral no leste de Bagdá, um ataque suicida deixou pelo menos seis mortos. Além de diversos outros atentados suicidas, entre eles um com carro-bomba diante da casa do ministro da Justiça em Bagdá, os rebeldes também dispararam granadas de morteiros contra vários centros eleitorais na capital. Um soldado americano foi morto na província sunita de Al-Anbar, informou o Exército dos EUA sem dar mais detalhes.