Título: Lula quer troca na Saúde e Previdência
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja demitir o ministro da Saúde, Humberto Costa, e o da Previdência, Amir Lando. Se todas as negociações com aliados forem fechadas como o Planalto deseja, Olívio Dutra (Cidades) tem chance de ficar no cargo. O governo só aceitará que Olívio seja substituído com uma condição: se o partido aliado mantiver a equipe. "Seria um erro destruir um ministério que foi criado neste governo", afirmou ontem ao Estado um ministro com assento no núcleo político do Planalto. "A estrutura de saneamento, por exemplo, levou meses para ser construída. Por isso, só admitiremos a troca se o corpo de funcionários for mantido." Para acertar os últimos arranjos da reforma ministerial, Lula se reuniu ontem à noite, na Granja do Torto, com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antônio Palocci (Fazenda), Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), além de seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho.

Os ministros do PT apresentaram a Lula o modelo de reforma defendido pelo partido, como antecipou o Estado. Se depender deles, o da Coordenação Política, Aldo Rebelo, também será substituído - e pelo próprio Dirceu.

Na Saúde, avalia-se que uma rede de intrigas está "corroendo" a imagem do petista Costa. Parte do PT tenta segurá-lo, argumentando que ele deve concorrer ao governo de Pernambuco e, sem cargo, teria candidatura minada.

Os erros em sua administração, no entanto, acentuaram-se nos últimos tempos: mortes das crianças indígenas em Mato Grosso do Sul, a falta de remédios contra a aids e até estocadas de funcionários de segundo escalão. É cotado para a cadeira de Costa, há duas semanas, o do ministro Ciro Gomes (PPS), da Integração Nacional.

"Ciro é o nosso curinga", definiu um interlocutor do presidente. O ministro não quer deixar a Integração porque comanda o megaprojeto do Rio São Francisco. Mas deve ser convencido por Lula, que precisa da pasta para outro aliado, provavelmente o PMDB.

DÉFICIT

O maior problema de gestão do governo, no diagnóstico feito ontem, é mesmo a Previdência, comandada por Lando. Além de haver problema de natureza administrativa que é crucial numa reforma, o Planalto avalia que é preciso outro nome para tocar o pacote para estancar o déficit da Previdência, estimado em R$ 37,8 bilhões. O mais cotado é do senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Na outra ponta, no mesmo dia em que Severino Cavalcanti (PP-PE) arquivou representação do PSDB contra Lula, o PP começou a negociar sua ida para o Ministério das Comunicações, hoje com o peemedebista Eunício Oliveira. No comando das conversas, Dirceu ofereceu ao PP: Comunicações e Trabalho. Mas o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), foi taxativo: "Não dá para aceitar Trabalho com essa reforma sindical pela frente. Não vamos querer um problema."