Título: Pela primeira vez, Aldo admite pressão dos petistas
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A5

O ministro Aldo Rebelo (PC do B) admitiu ontem, pela primeira vez, que está sendo pressionado por petistas do Palácio do Planalto e do Congresso, que desejam a volta do PT ao comando da coordenação política. Ele também deixou escapar que a sua serenidade e a permanência no cargo têm limites. "Acompanho e enfrento as pressões com naturalidade e espírito público, até onde for possível", disse. Para ele, governar é administrar pressões, desafios, reivindicações e críticas da imprensa.

Aldo está na mira do PT há dez meses, desde que o caso Waldomiro Diniz - o ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) flagrado ao pedir propina a um empresário do jogo do bicho - perdeu visibilidade no noticiário nacional.

SEGUINDO O DITADO

Habilidoso, o ministro reduziu a importância das pressões petistas, logo depois de admiti-las, recorrendo a um velho ditado: "Isso é como as bruxas do ditado espanhol: a gente não vê, mas que elas existem, existem."

Ele também tentou demonstrar tranqüilidade, citando o presidente do PT: "Não vamos nos preocupar porque o presidente do PT, José Genoino, nos disse que não é posição oficial do partido, e é natural que um ou outro setor tenha interesse em assumir o controle do ministério que cuida da coordenação política."

Embora vários ministros estejam pressionando o presidente para acabar com a angústia da equipe, concluindo logo a reforma ministerial, Aldo preferiu não discutir o ritmo de Luiz Inácio Lula da Silva: "Não cabe aos ministros comentar o momento em que o presidente toma as decisões. À imprensa e aos ministros cabe, naturalmente, esperar com disciplina."

ROTINA INTACTA

É com a disciplina característica dos velhos comunistas e a paciência típica de um chinês que Rebelo mantém intacta a sua rotina de trabalho. Mesmo pressionado, jamais trocou uma palavra ríspida com o ministro José Dirceu ou elevou o tom da voz nas reuniões internas com o núcleo petista do Planalto.

Os almoços semanais da coordenação política continuam a ocorrer sempre às quartas-feiras. Nestas ocasiões, Aldo senta-se ao lado dos ministros petistas Luiz Gushiken (Comunicações), Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Jacques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).

O ministro também troca ao menos 30 telefonemas diários com deputados da base governista, além falar com os líderes aliados. Conversa diariamente com os presidentes da Câmara e do Senado e recebe parlamentares, prefeitos e governadores.

Foi assim ontem, quando recebeu, logo no início da manhã, o governador de Sergipe, João Alves (PFL), e a bancada do PL mineiro. Conversou com parlamentares e prefeitos do Espírito Santo, do Piauí e da Bahia e ainda participou de dois debates. Um sobre federalismo e outro sobre a situação da BR-101, ao lado de parlamentares da Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte.

Aldo nunca foi tomar satisfação com os petistas sobre a disputa pelo seu cargo. Entende que isso é da política. Mesmo depois de o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, ter defendido publicamente a substituição dele, em nenhuma reunião da coordenação os petistas tocaram no assunto.

O ministro só telefonou a Genoino, na semana passada, porque soube das críticas de petistas ao seu desempenho. Que queiram sua cadeira, o ministro acha natural. Não admite, no entanto, a desqualificação de seu trabalho.

Não por acaso, o petista mais carinhoso no trato com Aldo é o ministro Palocci, que sempre aparenta estar fora das disputas políticas. No dia de seu aniversário, quinze dias atrás, Dirceu enviou-lhe uma garrafa de vinho com um cartão de felicitações, assinado por ele e a mulher, Maria Rita.