Título: Freira foi morta com arma de fazendeiro
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A8
O Instituto Médico Legal do Pará apresentou ontem laudo confirmando que o revólver calibre 38 encontrado na fazenda do grileiro Vitalmiro Moura, o Bida, em Anapu, foi a arma utilizada pelos assassinos da freira Dorothy Stang. O laudo será enviado amanhã às polícias Civil e Federal. A missionária recebeu seis tiros, todos disparados por Rayfran Sales, o Fogoió. Clodoaldo Batista, o Eduardo, outro suspeito de participação no crime, estava ao lado de Rayfran no momento em que começaram os disparos.
Também ontem a Justiça do Pará aceitou o pedido do Ministério Público Estadual para indiciar quatro suspeitos de envolvimento na morte da missionária Dorothy Stang, ocorrida no último dia 12, em Anapu. Bida, apontado pela polícia como mandante do crime, o capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, e os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo, vão responder por homicídio qualificado, podendo ser condenados a penas de prisão que variam de 12 a 30 anos. Dos quatro supostos assassinos, Bida é o único ainda foragido.
No próximo dia 15, o juiz de Pacajá, Lucas do Carmo de Jesus, irá ao Presídio de Americano, a 70 quilômetros de Belém, para interrogar Tato, Rayfran e Clodoaldo. Ao mesmo tempo em que começa o processo na Justiça do Pará, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisa pedido do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, de transferir o caso para a Justiça Federal.O pedido apresentado por Fonteles foi criticado pelos promotores paraenses que atuaram nas investigações. O procurador-geral alegou que o assassinato da missionária é um crime contra os direitos humanos e lembrou que Dorothy Stang foi acusada pelo próprio Ministério Público Estadual de formação de quadrilha.
Ao contrário dos dois pistoleiros, Tato nega envolvimento na morte da missionária. As polícias Civil e Federal concluíram, em inquérito encaminhado ao Ministério Público, que o capataz intermediou o crime.
Tato e Bida teriam decidido matar Dorothy Stang pois queriam a posse da gleba onde a missionária implantava um assentamento.
FORAGIDO
Quase um mês após o crime em Anapu, as polícias Civil e Federal ainda não conseguiram prender o acusado de mandar assassinar a missionária.
Equipes de inteligência das duas polícias foram deslocadas para diversos pontos do Pará no rastro de Bida. Na semana passada, os delegados que atuam no caso tentaram negociar com advogados do fazendeiro a rendição do acusado. Antes de fugir, dois dias após a morte de Dorothy Stang, Bida chegou a usar o telefone de uma fazenda vizinha.