Título: Em 16 anos, 9 presidentes renunciaram na região
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Internacional, p. A10
Se a renúncia do presidente boliviano, Carlos Mesa, fosse aceita pelo Parlamento, a América do Sul veria a décima interrupção de um mandato presidencial desde 1989. O cálculo é do Centro de Estudos Nueva Mayoría, que constatou: nos últimos 16 anos ocorreu na região uma interrupção a cada um ano e meio. O diretor do centro, o analista argentino Rosendo Fraga, destacou que isso pode ser interpretado como um sinal de alarme sobre as instituições sul-americanas.
Dos dez países da área, somente três - Uruguai, Chile e Colômbia - não tiveram esse tipo de turbulência política. Entre os que lideram o ranking, estão Argentina, Bolívia e Equador.
A lista de interrupções começa com o argentino Raúl Alfonsín (1983-89), que renuncia em meio a uma inflação galopante e ameaças de levantes militares.
Em 1992, é a vez do brasileiro Fernando Collor de Mello, que renuncia poucas horas antes antes de ser processado pelo Congresso por corrupção.
Oito meses depois, o venezuelano Carlos Andrés Pérez, acusado de corrupção, sofre duas tentativas de golpe militar e é destituído.
Em 1997, o presidente do Equador, Abdalá El Loco Bucaram é declarado incapaz mentalmente pelo Parlamento. Em 1999, oito meses depois de sua eleição, Raúl Cubas foge do Paraguai. O assassinato do vice-presidente Luis Maria Arga¿a é o estopim de uma revolta social.
No ano de 2000, o Equador volta a ser o cenário de turbulências sociais, quando, após o caos causado pela desvalorização da moeda, o presidente Jamil Mahuad é obrigado a renunciar por setores militares, sindicais e indígenas.
No mesmo ano cai o presidente peruano, Alberto Fujimori. Em meio a um escândalo de corrupção envolvendo seu principal assessor, Vladimiro Montesinos, Fujimori foge para Tóquio, onde renuncia.
Em 2001 é a vez do argentino Fernando De la Rúa, que renuncia após uma onda de saques na Grande Buenos Aires e protestos diante palácio presidencial, que causam a morte de 32 pessoas.
Em 2003 renuncia o boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada, após 14 meses no poder, no contexto de violentas manifestações sociais com um saldo de 130 mortos nos oito meses anteriores. Assume seu vice, Carlos Mesa.