Título: Decisão rompe espiral de intolerância suicida, diz líder
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Internacional, p. A10

Logo depois de ter sua renúncia rejeitada pelo Congresso, o presidente boliviano, Carlos Mesa, foi ontem à noite ao Legislativo para assinar o acordo de governabilidade acertado com líderes partidários e aprovado pela maioria dos congressistas. No caminho, foi entusiasticamente saudado por milhares de manifestantes que desde o início da tarde cercavam o palácio de governo para pedir ao dirigente que permanecesse no cargo. "Mesa querido, o povo está contigo", gritava a multidão. O presidente respondeu levantando as mãos e sorrindo. Pouco depois, em discurso no Congresso, Mesa declarou que a Bolívia havia decidido "resolver com sensatez uma crise institucional" que estava fazendo o país "mergulhar numa espiral de intolerância suicida".

As manifestações de apoio ao presidente vieram também do exterior. Por meio de um comunicado divulgado ontem à tarde em Assunção, no Paraguai, a presidência rotativa do Mercosul manifestou "o mais firme apoio" a Mesa. A Bolívia - assim como o Chile, a Venezuela, o Peru e o México - tem o status de Estado associado do Mercosul.

"Em conformidade com os princípios e valores do processo integrador do Mercosul, os países membros e seus Estados associados fazem chegar ao presidente Carlos Mesa Gisbert seu mais firme apoio com o objetivo de preservar a estabilidade democrática de seu país", diz a nota.

Num encontro na residência oficial de Los Pinos, sede do governo mexicano, o presidente do México, Vicente Fox, recebeu ontem seu colega paraguaio, Nicanor Duarte. Na entrevista coletiva conjunta, Duarte disse que seria "pouco favorável para a democracia da Bolívia se o Congresso aceitasse a renúncia de Mesa".

Em Doha, no Catar, onde está em visita oficial, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que seu governo apóia a permanência do presidente boliviano, assinalando que não deseja nenhum processo de desestabilização na América Latina. "Tenho lido todos os seus discursos (de Mesa), e apóio todos eles", declarou Chávez, pouco antes de embarcar para a França. "Trata-se de um país muito importante para nós. Além do que estamos falando da Bolívia, a filha favorita de Simón Bolívar e irmã profunda da Venezuela." Há duas semanas, no entanto, Chávez recebeu em Caracas o líder opositor Evo Morales, um dos principais promotores das mobilizações contra Mesa.